Diálogo com os socialistas poderá ser solução para a estabilidade e para manter o Chega na Oposição.
Corpo do artigo
As condições de governabilidade do segundo Executivo minoritário de Luís Montenegro dependerão de uma liderança moderada do PS, após Pedro Nuno Santos ter saído pelo seu pé para não ser “estorvo”. E André Ventura promete não parar até chegar ao poder. Marcelo Rebelo de Sousa prepara-se para indigitar o mesmo primeiro-ministro e garantir maioria estável parece ser uma missão impossível. As atenções viram-se para a eleição a curto prazo do próximo secretário-geral socialista. E, até termos um novo Executivo em funções, “há tempo para ver o que vem do lado do PS”, disse ao JN Luís Mira Amaral, ministro do Governo minoritário de Cavaco Silva. O politólogo Miguel Ângelo Rodrigues reforça que o PS só tem como alternativa viabilizar a governação da AD, sob pena de entrar numa “estratégia suicida” que apenas beneficiará o Chega.
Montenegro pediu sentido de Estado e de responsabilidade às oposições. “O povo quer este primeiro-ministro, não quer outro”, insistiu, embalado pela queda do PS, que será terceira força parlamentar se o Chega voltar a eleger dois deputados na emigração.
Manter Chega de fora
A luz ao fundo do túnel poderá estar no PS. Há um ano, o secretário-geral Pedro Nuno Santos prometeu “oposição responsável”. Desta vez, recusou ser “suporte” do Governo e deixa o cargo no sábado. Na corrida à liderança está o candidato José Luís Carneiro, que tem precisamente defendido o “espaço do centro moderado”.
Mira Amaral tem a experiência de um Governo minoritário. Foi ministro no Executivo de 1985-87, derrubado pela moção de censura do PRD. Seguiu-se a primeira maioria absoluta de Cavaco. Situação diferente vive Montenegro. Saiu reforçado, mas longe da maioria necessária, mesmo com a IL.
Sobre condições de governabilidade, diz ser preciso “aguardar por aquilo que se vai passar no PS” porque vai também “influenciar” o comportamento da coligação. “Se do PS surgir uma solução moderada, disponível para acordos com a AD, penso que poderá tranquilamente governar, mantendo o Chega na Oposição”, referiu Mira Amaral. Nota que “o PS vai convocar eleições para a liderança a curto prazo” e “o governo da AD estará em funções daqui a um mês”, o que dá “tempo” para ver o que surge do lado socialista.
Esse diálogo permitiria “facilitar a vida à AD e não ficar dependente do Chega”, quando PSD e PS “não têm interesse” em que “capitalize na Oposição”. Mira Amaral lembra a relação de “amor-ódio” do ex-militante André Ventura com o PSD.
Recuperar eleitorado
“Não restam alternativas ao PS senão mudar de líder e viabilizar o Governo da AD. Tudo que saia deste quadro é uma estratégia suicida que só tem um beneficiário: o Chega”, destacou Miguel Ângelo Rodrigues, vice-presidente da Escola de Economia, Gestão e Ciência Política da Universidade do Minho.
A seu ver, o novo líder terá de “assegurar estabilidade política, reconstruir o PS, recuperar eleitorado e evitar que o Chega assuma o papel de grande líder da Oposição e principal alternativa”. E como? “Com trabalho, propostas sérias, sendo uma garantia de estabilidade, mas mostrando autoria ou influência clara nas políticas públicas”.