Peritos e responsáveis políticos voltaram, esta quarta-feira, a reunir-se, na sede do Infarmed, em Lisboa, para avaliarem a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal.
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Face ao atual contexto de menor gravidade da doença, menor impacto nos serviços de saúde e mortalidade, e elevada cobertura vacinal, os especialistas são unânimes na hora de recomendarem o alívio das restrições. Consulte abaixo os principais pontos expostos na reunião e as propostas:
De pandemia a endemia
- A pandemia em Portugal está a transitar para uma endemia. O vírus que causa a covid-19 "está, objetivamente, endémico", confirmou Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, ressalvando que tal "não quer dizer que não haja gravidade" - o que dita a passagem de uma pandemia para uma endemia é a "forma de circulação da doença" e não "os riscos" que esta comporta.
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Incidência, positividade e R(t) em queda
- Há uma "tendência decrescente" da incidência da covid-19 em todas as regiões do país e em todos os grupos etários, acompanhada também de um decréscimo de positividade. De acordo com Baltazar Nunes, do Instituto de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), o país poderá atingir uma taxa de incidência "muito baixa" de cerca de 60 casos por 100 mil habitantes no espaço de dois meses.
- O índice de transmissibilidade - o R(t), que é o número de pessoas infetadas por cada caso positivo - está "em queda" desde o Natal: se, na altura, chegou a ser de 1,52, o valor é agora "muito mais baixo" (0,76), apontou Baltazar Nunes.
- Há uma "elevadíssima proteção" conferida pela cobertura vacinal, nomeadamente com reforço vacinal nos grupos etários acima dos 50 anos, disse Pedro Pinto Leite, da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Mortalidade e internamentos estabilizados e a descer
- No que diz respeito aos internamentos, Baltazar Nunes aponta para uma "estabilização do número de casos internados com covid-19 nos hospitais" e uma "tendência decrescente de internados em unidades de cuidados intensivos" (menos 17% em relação ao anterior período analisado), com números que se encontram "abaixo do melhor cenário" traçado.
- A variante ómicron (menos grave) representa hoje um risco de internamento de cerca de 75% inferior ao representado pela variante delta. E o tempo de internamento também é menor.
- Embora ainda elevada, uma vez que está acima da linha vermelha estabelecida pelo Centro Europeu de Controlo de Doença, a taxa de mortalidade estabilizou, quebrando a tendência crescente até agora verificada. A atual incidência da mortalidade é de 63 óbitos por 1 milhão de habitantes a 15 dias (num cálculo a sete dias, a tendência é mesmo decrescente).
- Em comparação com o período pré-pandémico, "o número de óbitos por todas as causas" representa um "excesso de mortalidade baixo a moderado", o que se deve à combinação da vacinação com a variante delta.
Alivio de restrições
- Portugal está "em situação de passar a um nível de menos medidas restritivas", disse Raquel Duarte, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, avançando com uma proposta de atuação face ao atual cenário, que prevê o fim de várias limitações, nomeadamente: do teletrabalho; da lotação máxima em estabelecimentos comerciais; da exigência de teste para entrar em bares e discotecas; e da proibição do consumo de bebidas alcoólicas na via pública.
- No que diz respeito às fronteiras, propõe-se também, num primeiro nível (o nível 1), a isenção de teste para quem tiver certificado digital válido e a realização de teste PCR ou antigénio nas 24 horas anteriores para quem não tiver (no nível 0, propõe-se o regresso às regras internacionais pré-pandemia).
- Quanto ao uso de máscara, no nível 1, manter-se-ia obrigarório nos locais interiores públicos e serviços de saúde, transportes públicos e veículos TVDE, locais exteriores de grande densidade populacional, estendendo-se a obrigatoriedade também a profissionais que lidam com populações vulneráveis. No nível 0, terminaria a obrigatoriedade do uso de máscara, excetuando no caso de pessoas com sintomas respiratórios ou perceção de risco.
Possível nova onda no próximo outono
- Baltazar Nunes aponta para "um possível padrão de sazonalidade" em que a doença se torna sempre mais grave nos meses frios, prevendo a ocorrência de "uma nova onda epidémica" no próximo outono/inverno, tendo em conta a perda gradual da proteção dada pela vacinação. O maior fator crítico será o eventual surgimento de uma variante mais forte, combinada com o início da perda da imunidade.
Novo modelo de vigilância
- Tendo em conta a possível sazonalidade do vírus, assimetrias mundiais na vacinação, surgimento de novas variantes e variações do nível de imunidade, Ana Paula Rodrigues (INSA) sublinha a necessidade de manter a vigilância populacional, propondo um novo modelo que inclua outros agentes de infeções respiratórias com potencial epidémico e sazonal semelhante ao da covid-19 (como, por exemplo, a gripe), o que geraria uma otimização dos recursos, tornando o sistema exequível.
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