Queda foi de 8,7 cêntimos. Petrolíferas e Deco acusam a tutela de errar previsões. Gasolineiras ganham 380 mil euros ao dia pois também não refletiram o desconto todo.
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O anúncio de descida de cerca de 15 cêntimos no preço dos combustíveis foi parcialmente anulado pela cotação do Brent do mar do Norte. A Associação Portuguesa das Empresas Petrolíferas (Apetro) acusa o Governo de ter feito uma previsão errada e, nesta matéria, é corroborada pela Deco Proteste, de defesa do consumidor. Ainda assim, a descida foi abaixo do previsto e as gasolineiras ganham 380 mil euros por dia com o processo.
Na segunda-feira, dia em que António Costa anunciou que a descida do imposto sobre produtos petrolíferos (ISP) se ia traduzir "num desconto de 15,5 cêntimos na gasolina e de 14,2 cêntimos no gasóleo", aqueles que acompanham o setor já sabiam que este benefício seria parcialmente anulado pela subida da cotação do Brent. Na semana passada, período que serve de referência para os preços desta semana, a cotação subiu cerca de quatro cêntimos. A isto soma-se quase um cêntimo de subida motivada pela desvalorização do euro face ao dólar, outro fator que o primeiro-ministro não teve em conta.
À CNN, António Comprido, secretário-geral da Apetro, diz que "a previsão estava errada". Com o efeito do Brent e da desvalorização monetária, o impacto da redução do ISP no preço final "seria de menos 11,3 cêntimos na gasolina e menos 10,6 cêntimos no gasóleo", calcula o secretário-geral.
Descida de 8,7 cêntimos
A Direção-Geral de Energia e Geologia já divulgou a estimativa de preços médios e, pelos cálculos do JN, a gasolina 95 e o gasóleo simples baixaram, em média, 8,7 cêntimos por litro de domingo para segunda-feira, a data de entrada em vigor da redução do ISP.
Ou seja, nenhum dos descontos nos produtos se aproximou dos 15 cêntimos prometidos por António Costa. Também não chegaram aos 11,3 cêntimos (gasolina) e 10,6 cêntimos (gasóleo), o que significa que as gasolineiras também beneficiaram com o processo. No caso, a diferença entre o valor de redução e o valor previsto é de 2,6 cêntimos na gasolina e 1,9 cêntimos no gasóleo, o que se traduz num ganho médio diário de 94 mil euros na primeira e 286 mil euros no segundo, num total de 380 mil euros.
Recorde-se que António Costa referiu ainda, no Twitter, que a ASAE ia "estar atenta", mas apelou a que todos os portugueses olhassem para a fatura do combustível "de modo a garantir que o desconto é mesmo aplicado". As declarações foram feitas depois da desilusão generalizada com os descontos de ontem, quando muitos esperavam uma redução de cerca de 15 cêntimos. Já ontem, o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, informou que o Governo "não hesitará em atuar" caso se comprove que há gasolineiras a incumprir na redução.
Contactado pelo JN, o especialista da Deco Proteste para as questões dos combustíveis apela à calma: "É preciso ter calma e não formular acusações precipitadas". A entidade de defesa do consumidor partilha da posição das petrolíferas e avisa que o desconto nunca seria o de 15 cêntimos que o Governo anunciou devido à subida do Brent.
Em resposta ao JN, o gabinete do primeiro-ministro não explicou porque é que, quando anunciou o desconto de 15 cêntimos, o primeiro-ministro não teve em conta o Brent, que já era público. Ao invés disso, o gabinete refere que "se esta medida não tivesse sido tomada pelo Governo, o preço dos combustíveis seria hoje superior em 15,5 cêntimos na gasolina e em 14,2 cêntimos no gasóleo, independentemente de outras componentes do preço final".