O ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, revelou esta sexta-feira que 48% do território nacional se encontra em seca severa ou extrema. O Governo vai avançar para a suspensão temporária dos títulos de utilização e captação de águas subterrâneas no aquífero Tejo-Sado para uso agrícola.
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"De acordo com informação do IPMA, neste momento temos 48% do nosso território em situação de seca severa e extrema", afirmou Duarte Cordeiro, após a 16.ª reunião da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, realizada em conjunto com a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes.
Os 48% de seca severa e extrema registados atualmente correspondem a um aumento de 14% face aos 34% do final de julho. Ainda assim, Cordeiro lembrou que, em agosto do ano passado, a seca severa e extrema se estendia a 100% do país.
O ministro do Ambiente frisou que este fenómeno se faz sentir de forma "assimétrica" em Portugal. O litoral alentejano e o Algarve - em particular a zona do Barlavento - continuam a ser as regiões onde a situação é mais crítica.
De modo a tentar mitigar a atual situação, o Governo irá decretar a "suspensão temporária dos títulos de utilização e captação de águas subterrâneas no aquífero Tejo-Sado para uso agrícola", informou Duarte Cordeiro. O objetivo, explicou, é "avaliar a recuperação do aquífero" durante o outono; caso essa recuperação se confirme, a suspensão será levantada.
Outono será quente; vem aí alguma chuva, mas seca vai continuar
As albufeiras estão hoje a 72% da capacidade, "o que compara com 58% em agosto de 2022", destacou Cordeiro. No entanto, o ministro adiantou que, no Algarve, as barragens vivem uma situação "pior" do que há um ano, uma vez que têm hoje um volume de água 30% abaixo daquele que registavam em agosto de 2022.
Apesar disso, no Sotavento algarvio, as medidas de mitigação dos efeitos da seca resultaram numa redução de 14% no consumo de água para uso agrícola. Ao todo, o consumo de água no Algarve reduziu-se em cerca de cinco hectómetros cúbicos face a 2022, muito graças aos esforços do setor agrícola. No que toca ao consumo urbano, pelo contrário, o ministro notou que ainda há "muito trabalho a fazer", razão pela qual apelou à moderação geral do consumo - em particular na hotelaria e serviços.
O Governo vai avançar com outras medidas para além da suspensão dos títulos do uso de águas subterrâneas no Tejo-Sado. No Algarve, serão monitorizadas as captações do aquífero de Querença-Silves, tendo também ficado decidida a atribuição de 5 milhões de euros do Fundo Ambiental para a captação do volume morto da barragem de Odelouca.
A ministra da Agricultura referiu que o país tem cinco barragens em situação particularmente delicada: duas delas situam-se no Algarve (Bravura e Arade) e três no Alentejo (Campilhas, Monte da Rocha e Santa Clara).
Ainda assim, e apesar das duas ondas de calor que se fizeram sentir em agosto, os défices de precipitação "foram menores do que em 2022", revelou Duarte Cordeiro, uma vez mais recorrendo a dados do IPMA. A presença de água no solo também aumentou, à exceção do Alentejo e do Algarve, onde a situação se mantém idêntica a 2022.
No que toca a previsões, o ministro disse ser "provável" que o país registe "uma temperatura acima do normal" durante o outono, embora também se espere precipitação acima do habitual para a época. Nas próximas semanas deverá haver "algum registo de precipitação em todo o país" - o que, embora possa "ajudar" a melhorar a situação, "não nos tirará desta situação de seca", referiu.