Um pouco por todo o país, os médicos aderiram ao primeiro dia de dois dias de greve nacional, convocada pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que decorreu durante a manhã desta terça-feira. Os blocos operatórios e as consultas externas foram os serviços mais afetados. Vários não chegaram a abrir portas.
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Durante a manhã desta terça-feira, a greve nacional de médicos atingiu uma "grande" adesão um pouco por todo o país, apontou, ao JN, a dirigente da FNAM Teresa Palminha, sublinhando, contudo, que os dados ainda são provisórios e há médicos que começam a trabalhar mais tarde pelo que ainda não se sabe se vão aderir à greve. Os serviços mínimos nas urgências estão garantidos. Segundo o balanço do sindicato, a adesão ronda os 85%.
Em Lisboa, no Centro de Saúde de Sete Rios, onde a médica esteve a acompanhar a paralisação durante a manhã, a adesão foi significativa, com muitos utentes a sairem da unidade sem consultas, que tiveram de ser reagendadas, e muitos utentes com doença aguda foram encaminhados para o Hospital da Cruz Vermelha.
Para a médica, a adesão mostra o grande descontentamento de toda a classe médica, tanto dos médicos com mais anos de carreira como dos mais novos. "Esperamos que com todas as nossas reivindicações, o ministro da Saúde reconheça que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está moribundo e que tem de ser tomadas medidas urgentes", afirmou.
A paralisação de dois dias, convocada pela FNAM, acontece cinco dias depois de os sindicatos de médicos se terem reunido com Manuel Pizarro, numa altura em que o descontentamento dos médicos tem sido manifestado com greves e com a entrega por cerca de 2 500 clínicos de minutas de dispensa ao trabalho extraordinários além das 150 horas anuais obrigatórias por lei, que tem provocado constrangimentos nos serviços de urgência de vários hospitais do SNS.
Na região Lisboa e Vale do Tejo, a paralisação atingiu os 95% no bloco operatório do Hospital de Cascais, com apenas uma das seis salas em funcionamento, e foi quase total no serviço de internamento do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), segundo Tânia Russo da FNAM.
Por seu turno, no Norte do país os blocos operatórios do IPO do Porto, do Hospital Tâmega e Sousa e de Viana do Castelo estiveram completamente parados durante a manhã, revelou, ao JN, a dirigente sindical Cátia Martins da FNAM.
No Hospital de Viana do Castelo, a paragem foi total no bloco operatório e rondou os 80% nas consultas externas. "Em geral, a adesão pode vir a rondar os 90%", afirmou o dirigente sindical Paulo Passos. Quanto a expectativas para a reunião de quinta-feira, o médico cirurgião sublinhou que "existem questões que o Governo quer manter que os médicos terão muita dificuldade em aceitar", como o trabalho suplementar ir além dos limites legais ou a perda ao descanso compensatório depois de fazer uma noite. Todavia, é "uma pequena esperança" dado que esperaram "17 meses para receber alguma abertura do Governo para uma negociação séria", advertiu.
Na região Centro a adesão à greve ronda, em geral, os 80%, adiantou Vitória Martins da FNAM. Os condicionamentos fazem-se sentir de forma mais notória nos blocos operatórios do Polo Hospital Geral do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) que durante a manhã esteve parado por completo, bem como do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SHUC), em Coimbra, onde apenas duas das 12 salas estão a funcionar.
Já o bloco operatório do Hospital da Figueira da Foz teve uma adesão de 95%. Apenas uma das quatro salas do bloco operatório está a funcionar da parte da manhã, sendo que o serviço estará fechado durante a tarde. Já em Leiria, ronda os 90%.
Ainda na região Centro, nos centros de saúde e unidades de cuidados de saúde primários a paralisação registou, durante a manhã, uma adesão entre os 70 e 80%, sendo que em algumas unidades não abriram portas com uma adesão total ao protesto.
Na proposta apresentada na passada quinta-feira, o Ministério da Saúde prevê um suplemento de 500 euros mensais para os médicos que realizam serviço de urgência e a possibilidade de poderem optar pelas 35 horas semanais. Recorde-se que embora considerasse que a tutela mostrou "abertura para recuar nas suas intenções" na reunião da semana passada, a FNAM decidiu manter a greve desta terça-feira e quarta-feira uma vez que defende ser necessário conhecer documentos concretos sobre a dedicação plena dos médicos e do regime das unidades de saúde familiares (USF-B).
Por outro lado, para a Federação integrar as reivindicações da classe na proposta, desde logo a atualização das grelhas salariais e outras com vista às condições de trabalho, é um imperativo que garante não vir a ceder para que se consiga chegar um acordo. Para os médicos, o suplemento de 500 euros para aqueles que fazem urgências não é suficiente. "Precisamos é de um ordenado base melhorado e condições de trabaho que fixe os médicos no SNS, nomeadamente os jovens, porque sem médicos há SNS", resumiu Teresa Palminha.
Logo à tarde são esperados médicos e utentes de todo o país numa manifestação em frente ao ministério da Saúde, pelas 15 horas, em Lisboa, pela defesa da carreira médica e do SNS. Vários clínicos em greve partiram esta terça-feira de manhã, de autocarro do Porto, Viana do Castelo e Coimbra rumo à capital para participarem no protesto.