Escolas de 1.º ciclo encerradas e alunos de 2.º e 3.º ciclos a deambular pelos recreios é o cenário traçado pela associação de diretores escolares devido à greve dos professores nesta quarta-feira.
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Segundo Filinto Lima, diretor do Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), os casos mais problemáticos neste dia de greve dos professores são as escolas de 1.º ciclo, onde "há uma grande razia, o que tem uma repercussão para os pais, uma vez que os alunos não podem ali ficar".
Nas restantes escolas, as famílias deverão estar a ser menos afetadas, uma vez que os portões estão abertos apesar de muitos alunos não terem aulas.
"Na Escolas Básicas de 2.º e 3.º ciclos há muitos miúdos a deambular pelos recreios e cria a sensação de que estão no intervalo, porque a maior parte dos professores está a faltar às aulas", disse à Lusa Filinto Lima, que acredita que a greve "será a maior dos últimos anos".
O responsável disse ainda conhecer casos de "muitos professores que não vão a Lisboa à concentração, mas estão em greve".
Filinto Lima estima que no agrupamento de escolas Dr. Costa Matos, em Gaia, que dirige, a adesão à greve ronde os 90%. Às 09.30 horas, Filinto Lima tinha a informação de que faltavam dois terços dos professores na escola-sede, frequentada por alunos entre o 5.º e o 9.º ano, não tendo ainda dados sobre o pré-escolar e o primeiro ciclo.
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O Sindicato dos Professores do Norte diz que nas escolas da região do Porto há "uma adesão esmagadora". Monção, Santa Maria da Feira, Vila Nova de Gaia e Vale de Cambra foram alguns dos concelhos onde escolas encerraram devido à paralisação dos professores, segundo a coordenadora Manuela Mendonça.
Nas escolas secundárias Almeida Garrett e António Sérgio, em Vila Nova de Gaia, o ambiente era pouco diferente dos restantes dias. Duas ou três turmas não terão tido aulas ao primeiro tempo, nestas escolas do centro de Gaia, segundo foi possível apurar - um cenário confirmado pelos poucos alunos que se encontravam no local.
Se tudo parecia funcionar (quase) normalmente nestas escolas, já na Aurélia de Sousa, no Porto, o rebuliço era um pouco maior. Ainda que, segundo alguns funcionários, a greve não estivesse a ter um impacto muito significativo, durante a manhã o movimento de alunos no balcão à entrada da escola foi constante. Os estudantes queriam saber se este ou aquele professor estava a faltar e as respostas das funcionárias eram quase sempre afirmativas.
Muitos jovens pediam autorização para sair, por já saberem que não iam ter mais aulas de manhã. Os que não foram embora - por não terem autorização ou por não saberem se a aula seguinte se ia realizar - esperavam no átrio. Entre eles, Margarida, do 10.º ano, disse que não teve aulas ao primeiro tempo e não tinha qualquer informação sobre se o professor seguinte viria. Luís, encarregado de educação de um aluno do 8.º ano, já tinha confirmado junto da escola que as duas primeiras aulas do filho não se iriam realizar, mas em relação ao resto do dia as confirmações só se iriam fazer "professor a professor".
A greve dos professores obrigou ao encerramento de 11 escolas no concelho de Guimarães, e ao condicionamento das três secundárias. Por falta de professores, fecharam as Escolas EB 2, 3 de Abação, Arqueólogo Mário Cardoso na vila de Ponte, as EB 2, 3 de Caldas das Taipas, Moreira de Cónegos e Briteiros. Encerraram ainda as EB1 de Caneiros e Penselo, do Agrupamento Fernando Távora, também as EB1 do Agrupamento Abel Salazar de Ronfe, Ribeira e Poças de Santa Maria de Airão.
Na Escola Básica Quinta de Marrocos, em Benfica, Lisboa, os portões abriram à hora marcada e os alunos entraram sem saber se iam ter aulas, enquanto um funcionário dizia à Lusa que a greve está a ter "bastante adesão". Poucos minutos depois muitos alunos voltaram para o recreio e informaram os pais, que ficaram à porta, que não iam ter a primeira aula.
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Em declarações à Lusa, Rita Silva, mãe de uma aluna do 5.º ano naquela escola, contou que já tinha ido deixar o outro filho na casa da avó porque a professora do primeiro ciclo da Escola Professor José Salvado, em Benfica, tinha faltado. "A greve causa muito transtorno", disse Rita Silva, confessando que se não fosse a sogra tinha de faltar ao trabalho.
Na Escola Secundária José Gomes Ferreira, também em Benfica, dezenas de alunos encontravam-se à porta do estabelecimento de ensino porque não tiveram a primeira aula. "A escola está a funcionar e muitos alunos estão a ter aulas. Nós vamos aguardar pela próxima hora", disse à Lusa Teresa Santos, aluna do 10.º ano.
O mesmo cenário foi encontrado pela Lusa na Escola Sebastião da Gama, em Setúbal, na Escola Secundária Professor José Augusto Lucas, em Linda-a-Velha, e na Escola EB2,3 Fernando Pessoa, nos Olivais, e na Escola Básica 2,3 Professor Delfim Santos, em Benfica.
A greve dos professores desta quarta-feira fez duas das maiores escolas de Braga "arrancar pela metade", com alunos a ter aulas "com toda a normalidade" e outros a festejar o "feriado a meio da semana".
Fonte do agrupamento Carlos Amarante, Hortense Santos, explicou à Lusa que há aulas a decorrer, mas que cerca de metade das salas estão vazias por falta do professor e à porta da escola os alunos fazem a contabilidade de quem "teve sorte ou azar".
Na Escola Secundária D. Maria II, o cenário é idêntico, segundo disse à Lusa fonte naquele estabelecimento de ensino, "faltaram alguns professores," mas há aulas a decorrer normalmente. "Arrancou pela metade. Ainda estamos a contar, a escola é grande, mas para já está meio/meio", afirmou a fonte na Carlos Amarante.
Isto de ter feriados a meio da semana é fixe, serve para descansar
Na D. Maria II "há aulas a decorrer com toda a normalidade" embora "alguns professores tenham aderido à greve, ainda não dá para adiantar números porque ainda é cedo para essa contabilização".
À porta da Carlos Amarante fazem-se também outras contas: "Quantos há para o torneio?", é a questão lançada por um grupo de alunos que vai aproveitar a falta de aulas para se dedicar a jogos de consola. "Estamos a ver quem teve sorte e quem teve azar para vermos quantos estamos para fazer um torneio de futebol", explicou prontamente um dos estudantes.
"Isto de ter feriados a meio da semana é fixe, serve para descansar. O pior é que depois os 'profs' vão querer dar a manteria a correr porque já é o segundo furo por greves este período", lembrou outra aluna.
Já começo a não achar piada à brincadeira de não ter onde deixar os miúdos
Mas se a greve dos professores parece não incomodar muito os alunos, os encarregados de educação começam a "não achar piada à brincadeira", embora entendam os motivos.
"Eu até entendo porque fazem greve, além de que é um direito que os trabalhadores têm. Mas já começo a não achar piada à brincadeira de não ter onde deixar os miúdos", explicou Sónia Campos, mãe de duas alunas de 13 e 12 anos.
No Centro Escolar das Árvores, em Vila Real, após o toque de entrada das 09 horas, os alunos correram para o recreio da escola a gritar "greve, greve, greve" depois de perceberem que os professores faltaram.
Os meninos ficaram contentes por não terem aulas, ao contrário dos pais e encarregados de educação que se mostraram mais preocupados e tiveram que procurar alternativas para os deixar durante o dia.
Os efeitos da greve foram mais visíveis nas escolas básicas do primeiro ciclo do que nos estabelecimentos de ensino do secundário e dos 2.º e 3.º ciclos. À porta da Escola Diogo Cão EB 2,3 o movimento foi igual ao de todos os dias, com muitos carros e muitos pais a deixarem os filhos. Alguns professores faltaram, mas os alunos tiveram que ficar dentro do recinto escolar.
A incerteza sobre se os professores faziam greve obrigou alunos do Alentejo a acordarem cedo, na mesma, para confirmarem se tinham aulas, e pais a um "jogo de cintura" para gerirem a situação, que causa "transtornos".
Na Escola Básica de Santiago Maior, em Beja, a manhã começou com alunos a entrarem "sem destino certo" no edifício dos 2.º e 3.º ciclos e no centro educativo do 1.º ciclo e pais a esperarem fora para saberem se os filhos tinham ou não aulas.
Esta incerteza também "reinou" na Escola Básica e Secundária Dr. Isidoro de Sousa, em Viana do Alentejo, Évora, com a greve a provocar um "entra e sai" do estabelecimento das crianças e jovens e a implicar algum tempo de espera por parte dos progenitores.
Numa ronda feita pela Lusa junto das três escolas secundárias de Évora, que são sedes de agrupamento, os diretores indicaram que a greve dos professores está a ter um impacto significativo no normal funcionamento das aulas. A paralisação, afirmaram, fechou meia dúzia de escolas do 1.º ciclo, enquanto as básicas e secundárias estão a funcionar, mas há poucos professores a darem aulas.
Na região do Algarve muitos alunos ficaram sem aulas. "A noção que temos é a de que há muitos professores a faltar e muitos alunos sem aulas", disse à Lusa Ana Simões, da Fenprof, observando que, apesar de ainda não terem sido apurados dados concretos, a adesão à greve "está a ser elevada" e é "transversal" aos vários níveis de ensino.
Na escola EB 2,3 Joaquim Magalhães, em Faro, boa parte dos alunos ficaram sem aulas na maioria das disciplinas, contudo, estão a ser informados de que não podem sair da escola, a não ser que os encarregados de educação os vão buscar, disse à Lusa a mãe de um aluno do 6º ano.
"O meu filho entrava às 08.30 horas, mas vai ter que ficar na escola quase o dia todo, até às 15 horas, para ter uma aula de Ciências, que é a única disciplina em que o professor não faltou", contou Lisa Orvalho.
Já na Escola Básica de S. Luís, situada também no centro da cidade e que pertence ao mesmo agrupamento, a adesão à greve não causou grandes perturbações, com boa parte dos alunos a terem um dia normal de aulas.
A Escola Secundária Avelar Brotero, em Coimbra, registou uma adesão de 70% à greve dos professores, uma das mais elevadas da cidade, havendo ainda estabelecimentos do concelho e da região com participações de 100%.
Na Escola Avelar Brotero, os dados da adesão à greve, fornecidos pela direção à agência Lusa, têm a particularidade de coincidirem com o levantamento do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), que integra a Federação Nacional dos Professores (Fenprof).
Ao início da manhã, dos 106 docentes que deveriam trabalhar nesta escola, junto ao Estádio Cidade de Coimbra, apenas 34 se apresentaram ao serviço, de acordo com o diretor, Manuel Esteves da Fonseca.
Esta situação representa "uma adesão à greve de 70%", confirmou à Lusa a presidente do SPRC, Anabela Sotaia.
No concelho e no distrito de Coimbra, mas também no distrito de Aveiro, há estabelecimentos de diferentes níveis de ensino em que a adesão à greve é superior a 70% e nalguns casos chega aos 100%.
Cento e sessenta professores lecionam na Escola Secundária Avelar Brotero, em Coimbra, que é frequentada por cerca de 1500 alunos, do 10º ao 12º ano.
Na mesma cidade, na Escola Secundária José Falcão (antigo Liceu D. João III), com 960 alunos e 91 docentes, "faltaram 19 dos 64 professores" que deveriam estar a trabalhar, às 10:00, revelou um responsável da direção.
"A escola está a funcionar", adiantou Nuno Dâmaso.
Ainda de manhã, na Escola Secundária Infanta Dona Maria, "num universo de 80 e tal professores", 10 aderiram à greve, segundo Agostinho Amoedo, da direção desta escola de Coimbra.
Os professores cumprem esta quarta-feira uma jornada de luta contra a não contagem do tempo de serviço prevista na proposta do Orçamento de Estado para 2018 (OE2018), que será debatida no parlamento.
A proposta de OE2018 prevê que não seja contabilizado o trabalho realizado entre 31 de agosto de 2005 e 31 de dezembro de 2007, nem entre janeiro de 2011 e 31 de dezembro de 2018.