A greve é dos professores, mas, desta vez, os alunos não esqueceram a luta dos que dedicam a vida a ensinar. Na manhã desta sexta-feira, os docentes e não docentes da Escola Básica de Perafita formaram um cordão humano, para expor frustrações e desilusões com o rumo que o Governo tem dado ao setor. Pelo meio, ouviram-se gritos e cânticos a anunciar as principais reivindicações. Bombos e concertinas ecoaram a melodia de uma música tradicional portuguesa, que foi adaptada pelos professores e tocada por alguns dos alunos que decidiram mostrar solidariedade com a causa.
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O arranque do ano fica marcado pela crise no ensino: as greves multiplicam-se de norte a sul do país e os números são reveladores do descontentamento dos profissionais. Mais de 80% dos professores tem aderido à greve parcial que implica a perda do primeiro tempo de aulas de cada docente. Na Escola Básica de Perafita, a mobilização foi praticamente total e apenas duas turmas tiveram aulas no primeiro tempo da manhã.
"Este é o momento, a hora chegou, temos de lutar". A frase foi repetida vezes sem conta em tom de slogan e pelo meio lá vinha o nome de António Costa, acusado de "transformar em carrascos aqueles que contribuem todos os dias para o desenvolvimento das crianças e jovens". Susana Arouca, dirigente sindical do SIPE (Sindicato Independente de Professores e Educadores) afirma que este é o melhor momento para não baixarem os braços em prol de um setor que exige respeito: "Não podemos aceitar que descredibilizem e banalizem a classe e a carreira. O ministro tem de pensar seriamente no que está a fazer".
Em cima da mesa, está a proposta da tutela em alterar o modelo de contratação dos professores que é feito com base na classificação profissional e nos anos de serviço. Uma medida que deixa os docentes revoltados, uma vez que acreditam que o novo método "contribui, manifestamente, para que a lei da selva e o apadrinhamento de circunstância possam vir a ser implementados no ensino português".
Ana Pinheiro, professora na Escola Básica de Perafita, atirou farpas ao Governo e não poupou nas críticas: "Nós sabemos que não somos um país com muita gente corrupta, mas sabemos que ela existe e se ela existe temos muito medo de que venha a ser colocado um professor em detrimento de outro, que esteja melhor preparado e que seja melhor classificado". A par desta reivindicação vêm outras mais antigas, que os professores garantem não estarem esquecidas: "Falamos dos baixos salários, do fim das vagas para a progressão na carreira de docente, da recuperação do tempo integral de serviço e da revisão das condições de aposentação". Junto à professora Ana estavam dezenas de alunos que batiam palmas e apoiavam o discurso, que findou com um recado: "sem educação de qualidade não há um país de sucesso".
A assistir ao grande ajuntamento, que se deu na frente da Escola, estavam os encarregados de educação que consideraram ser tempo para mudar o futuro da educação: "esta é uma causa válida e justa, que já se arrasta há muito tempo. Está na altura de tomar medidas e de ouvir os professores nesta luta", sublinhou Cláudia Couto, mãe de uma aluna de oitavo ano.
Se a dúvida permanecia quanto às implicações desta greve nas aprendizagens dos alunos, Cláudia garante que "na prática esta paralisação não tem impacto direto, porque se trata apenas de um tempo que consegue ser facilmente recuperável". Opinião reiterada pela professora e dirigente sindical Susana Arouca que defende que os alunos têm a oportunidade de adquirir com esta greve a aprendizagem da cidadania. "Vamos compensar as matérias e tudo o que possa vir a seguir, porque os alunos estão sempre em primeiro lugar. Nós nunca nos esquecemos deles e eles sabem que ao lutarmos estamos também a ensinar".
De luto em luta a classe docente promete continuar a protestar e afirma que se do Governo não vierem respostas, as próximas medidas vão passar pelo acampamento em frente ao ministério da Educação, pelas greves a nível distrital, culminando com uma grande manifestação no dia 11 de fevereiro.