O Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte anunciou hoje que a greve dos trabalhadores da saúde já obrigou a fechar enfermarias e blocos operatório em todo o país.
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À Lusa, o coordenador do Norte indicou que, às 8.30, no Hospital de São João, a adesão à greve é de "pelo menos 80%".
"Há enfermarias e blocos operatórios fechados. Só estão a realizar-se os mínimos: urgências e cirurgias oncológicas. E o cenário nacional é semelhante", disse Orlando Gonçalves.
O coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte lamentou a "lentidão" do Governo nas negociações, apontando o dedo à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, por esta não chamar esta estrutura sindical a negociar desde julho.
"Tivemos uma reunião com a secretária de Estado da Saúde em julho, quatro meses após a tomada de posse do novo Governo, e mais nenhuma reunião foi convocada", criticou.
Questionado sobre as principais preocupações do setor, Orlando Gonçalves disse que "o Governo, em vez de reforçar o Serviço Nacional de Saúde, está a enviar [utentes] para o privado" e falou da carreira dos Técnicos Auxiliares de Saúde (TAS).
"A nova carreira dos TAS continua por definir. É necessário abrir concurso para clarificar as categorias, mas a carreira faz a 1 de janeiro um ano e não foi aberto nenhum procedimento concursal em nenhum hospital. Esta situação cria muitos conflitos e injustiças", disse.
Orlando Gonçalves reforçou que "esta é uma carreira especial, de contacto direto com o doente", lamentando que tenha "um salário com pouco mais de 50 euros acima do salário mínimo, o que líquido se reflete em pouco mais de 17 euros".
"A profissão ou chega para pagar a renda, e não pode procurar nada de muito bom, ou para comer. Os trabalhadores da saúde sofrem um desgaste muito grande. É um trabalho duro, sobretudo a nível emocional", concluiu.
Cirurgias e exames adiados
Cirurgias e exames adiados, consultas e serviços encerrados são resultado da greve de hoje, que no período da noite registou uma adesão a rondar os 80%, disse à Lusa uma dirigente sindical.
Fazendo um ponto da situação às 9 horas de hoje em frente ao Hospital Santa Maria, em Lisboa, Elisabete Gonçalves, da comissão executiva da Fesinap, adiantou que o impacto da paralisação vai sentir-se "a partir de agora" com o encerramento de serviços e cuidados de saúde, como cirurgias e exames, adiados.
"Já começamos a receber dados nesse sentido. Ou seja, já temos consultas encerradas, como é o caso no Hospital de Santa Maria e em Faro e noutros hospitais da região Metropolitana de Lisboa começam também a surgir dados do encerramento de consultas e a não realização de exames e de cirurgias programadas", disse a dirigente sindical à Lusa.
Sobre a adesão à greve, entre a meia-noite e as 8 horas de hoje, Elisabete Gonçalves indicou que na área Metropolitana de Lisboa rondou os 85%, no Norte os 90% e no Centro os 80%.
No sul do país (Algarve, Beja e Portalegre), rondou os 75% a 80%, referiu, rematando que, "até ao momento, tem sido uma boa adesão à greve".
Valorização da carreira e novas contratações
Os trabalhadores da saúde estão hoje em greve pela valorização da carreira e contratação de trabalhadores, acusando o Governo de adiar "a resolução dos problemas" por estar cerca de meio ano sem negociar com o sindicato representativo.
A paralisação dos trabalhadores em funções em estabelecimentos de saúde começou à meia-noite de hoje e termina à meia-noite de amanhã, estando assegurados os serviços mínimos.
Além da carreira dos técnicos de emergência pré-hospitalar, estão por negociar as dos técnicos auxiliares de saúde, técnicos superiores de saúde na área da psicologia, na área da nutrição, na área da farmácia, técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica.
Os serviços mínimos serão assegurados nos serviços que funcionem ininterruptamente 24 horas por dia, nos sete dias da semana.
Serão também assegurados os tratamentos de quimioterapia e hemodiálise já anteriormente iniciados.
Em concreto, os trabalhadores da saúde exigem a abertura dos processos negociais, melhores condições de trabalho, a dignificação e valorização das carreiras, a contratação de mais funcionários para as várias carreiras do setor e em defesa do SNS.
Os trabalhadores da saúde protestaram em 8 de novembro em frente ao Ministério da Saúde para reclamar a valorização das carreiras e a contratação de trabalhadores para todos os setores da saúde.
Na altura entregaram um pedido de reunião no Ministério da Saúde, acompanhado de uma proposta reivindicativa.
A greve foi convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (Fesinap) e está incluída na greve geral de trabalhadores da administração pública.