A greve nos portos marítimos pode ter impactos "muito graves" nas cadeias de abastecimento de matérias-primas e produtos em Portugal, alertam os empresários. O setor da distribuição garante que, para já, não escasseia comida nas prateleiras, embora já haja falhas pontuais de produtos em supermercados.
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Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), frisa que já recebeu contactos de associados "muito preocupados". Os do setor agroalimentar receiam "deixar de poder fornecer as cadeias de distribuição, se a situação não for resolvida com alguma celeridade". Outros setores, "que importam muita matéria-prima, como a metalomecânica, estão já a sentir" o problema, lembrando que a greve nos portos surge após uma grande "pressão" criada nas cadeias de abastecimento pela pandemia de covid-19 e pela guerra na Ucrânia.
O líder dos empresários alerta para os riscos da situação se arrastar, já que o "sindicato tem várias datas de pré-agendamento de greve até ao dia 30" e "os interlocutores do Governo que estavam a negociar saíram".
Maioria vem por mar
É "urgente haver alguém da parte do Governo que fale com os sindicatos para se poder encontrar uma solução, porque os impactos podem ser muito graves. Corremos o risco de isto contribuir para um aumento maior dos preços, a somar a esta inflação que vivemos", adverte, ainda, Luís Miguel Ribeiro. A via marítima representa a "esmagadora maioria" do tráfego de mercadorias. "Em 2021, foram [movimentadas por via marítima] 83,1 milhões de toneladas de mercadorias", das quais 50 milhões de toneladas foram importações.
Ao JN, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição deixa uma "nota de tranquilidade aos consumidores" e garante que "não existe falta de produtos alimentares". Admite, no entanto, a indisponibilidade de alguns produtos, tal como avançou ontem o Expresso, nomeadamente os ovos e os produtos lácteos.
"Em alguns casos, a indisponibilidade de algumas categorias de produtos deve-se apenas a falhas momentâneas de stock devido a um aumento de procura nesta altura do ano ou a demora pontual na entrega da mercadoria, que fazem com que a reposição do stock possa demorar um pouco mais do que o desejado", acrescenta.
O grupo Jerónimo Martins, que gere a rede de supermercados Pingo Doce, sente falhas ocasionais, sobretudo ao nível de comida para cães, ovos e produtos lácteos dos Açores. No caso dos ovos, está relacionado com o abate de galinhas por causa da gripe das aves. Na ração, a dificuldade resulta do aumento de animais de estimação, que pressiona a procura destes produtos.
O Continente, líder do retalho alimentar em Portugal, não regista "problemas de abastecimento. A disponibilidade dos produtos nas lojas está assegurada".