Bloco central mantém-se firme no topo. Em 2005, foram dez os partidos e coligações candidatos às legislativas. Só resistem seis atualmente. Este ano mais que duplicam os partidos concorrentes, são 22.
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O número de partidos candidatos às legislativas de 18 de maio mais do que duplicou em relação a 2005, passam de 10 para 22. Os partidos que se mantêm são o PS, PSD, CDS, PCP-PEV, Bloco de Esquerda e o Ergue-te, na altura denominado PNR. Ao longo das duas décadas, quatro partidos foram extintos: o Partido Nova Democracia (PND), o Partido Humanista (PH), o Partido Operário de Unidade Socialista (POUS) e o Partido Democrático do Atlântico (PDA).
Os partidos com assento parlamentar aumentaram de cinco, em 2005 (PS, PSD, CDS, BE e PCP-PEV), para nove, tendo sido criados mais quatro partidos. O PAN foi criado em 2011, seguido do Livre, em 2014, a Iniciativa Liberal em 2017. O Chega apareceu em 2019. José Palmeira, professor e investigador de Ciência Política da Universidade do Minho, explica que este aumento está relacionado com diversos fatores. "Os partidos relacionam-se com os eleitores – sobretudo os mais jovens – através das redes sociais, o que lhes dá maior visibilidade do que no passado, onde só apareciam nos tempos de antena pré-eleitorais, sendo nessa altura designados de partidos-flas", refere o politólogo.
"Por outro lado", continua, "o mercado eleitoral está hoje mais aberto. A globalização trouxe novas clivagens (globalismo/nacionalismo), diferentes das anteriores (conservadorismo/liberalismo/socialismo), alargando o espectro partidário aos extremos, seja à esquerda (Syriza, na Grécia), seja à direita (Irmãos de Itália, de Georgia Meloni), para referir apenas os casos de maior sucesso na Europa". Acrescenta ainda que "em Portugal, nos últimos vinte anos, o número de partidos aumentou sobretudo à direita, em contraponto com o pós-25 abril, onde a maioria dos partidos se situava à esquerda".
"Emergiram partidos de causas, como o PAN, com implantação sobretudo nos centros urbanos, também apelidados de partidos de nicho, que curiosamente acabam por ser vítimas do seu próprio sucesso, quando os partidos de governo adotam as suas medidas e lhes retiram a agenda, quando não a razão para continuarem a existir. O mesmo aconteceu no passado com os partidos ditos Verdes, ou ecologistas, que hoje têm menos expressão eleitoral", justifica o professor.
O PS, em 2005, conseguiu a sua primeira maioria absoluta, com José Sócrates, ou seja, o total de 120 deputados, cerca de 45% dos votos. O PSD, com a liderança do anterior primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, ficou em segundo lugar, com 72 deputados. Nas legislativas de 2024, o resultado foi mais equilibrado, com o PSD a garantir uma minoria relativa.
Partidos que mais perderam deputados
O PCP-PEV e o CDS foram as forças políticas que mais perderam influência no Parlamento. O partico comunista, há 20 anos, liderado por Jerónimo de Sousa, tinha a terceira maior bancada parlamentar, com 14 deputados. Nas eleições legislativas de 2024, o PCP-PEV, com Paulo Raimundo, desceu para quatro, menos 10 em comparação a 2005. O CDS, por sua vez, obteve 12 deputados em 2005, com o líder Paulo Portas, e, em 2024, enquanto integrante da coligação AD (Aliança Democrática), conseguiu dois, com o atual líder Nuno Melo.
O Bloco de Esquerda, com Francisco Louçã como coordenador nacional, conseguiu a sua primeira grande subida nas legislativas de 2005, atingindo oito deputados. Nas eleições de 2015 e 2019, com Catarina Martins, o partido atingiu o número de 19 deputados, contudo sofreu uma descida significantiva nas duas seguintes, ficando com cinco. A atual líder do partido é Mariana Mortágua.
José Palmeira interliga esta queda com "o aumento do número de partidos", o que "leva à fragmentação parlamentar e acrescenta dificuldades à obtenção de maiorias de governo". Argumenta também que "os eleitores tradicionais dos partidos dos extremos" são, por causa desta fragmentação, "seduzidos a votar no partido do centro que lhes está mais próximo para garantir seja a vitória da sua área política". Sobre estes partidos concretos, o politólogo explica que o "PCP e BE foram também 'vítimas' da sua ligação ao PS, durante a chamada Geringonça, uma vez que deixaram de ser vistos como partidos de protesto e os seus eleitores sentiram-se mais à vontade para votar no PS ou transferiram o seu voto para um partido de protesto emergente, o Chega". "O mesmo aconteceu ao CDS", prossegue, "devido às suas coligações de governo com o PSD, o que levou os seus eleitores tradicionais a 'fugirem' para o PSD ou o Chega".
Sem assento parlamentar
O partido que, em 2005, mais perto esteve de obter um lugar no Parlamento foi o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP), partido maoísta, com fundação em 1970 e legalizado em 1975. Os fundadores foram Vidaúl Ferreira, Arnaldo Matos, João Machado e Fernando Rosas, sendo o último fundador do Bloco de Esquerda e cabeça de lista por Leiria nas legislativas de 2025.
O PCTP/MRPP, em 2005, tinha António Garcia Pereira como líder e ficou em sexto lugar nas eleições, com 0,84%. Nas legislativas de 2024, o partido ficou em 13º lugar, com Cidália Guerreiro, com 0,24%.
O Partido Nacional Renovador (PNR), agora denominado de Ergue-te, ficou em nono lugar em 2005, com 0,16%. Comparativamente, em 2024, ficou em 15º lugar, com 0,09%. O Ergue-te é um partido de extrema-direita ultranacionalista, legalizado em 1985, que conta com Rui Fonseca e Castro como presidente. De 2005 a 2024, o líder era José Pinto Coelho.
José Palmeira explica que o PCTP/MRPP sobreviveu tantas décadas porque é "um partido histórico, com implantação estudantil por ocasião do 25 de abril, e a sua sobrevivência deve-se sobretudo a esse passado, mais do que em relação a expectativas futuras".
"Já o Ergue-te é um partido nacionalista, que perdeu espaço com o aparecimento do Chega, sendo hoje um partido de personalidades que procuram mediatismo através de uma agenda radical", analisa.
Partidos extintos
Nos partidos extintos, o PND foi o que esteve mais perto de obter um lugar na Assembleia da República. O Partido Nova Democracia era um partido conservador-nacionalista, fundado em 2003 pelo antigo líder do CDS, Manuel Monteiro. O partido contava com Diogo Pacheco de Amorim, atual deputado do Chega e antigo dirigente do MDLP, mais conhecido por ser a organização responsável pelo assassinato do padre Max e de uma estudante. O PND foi extinto em 2015 por não apresentar contas durante três anos seguidos.
Outro partido extinto que concorreu às eleições de 2005 é o Partido Humanista, legalizado em 1999, que pretendia lutar contra a violência e o sofrimento na sociedade. Tinha como líder Luís Filipe Guerra e foi extinto pelo Tribunal Constitucional em 2015.
O Partido Operário de Unidade Socialista (POUS), fundado em 1976 por Carmelinda Pereira e Aires Rodrigues, era um partido Trotskista constituído por antigos membros do PS. Em 2020 foi extinto e atualmente é uma associação política. O Partido Democrático do Atlântico era um partido de extrema-direita, criado em 1979, que defendia a autodeterminação das regiões autónomas da Madeira e Açores. O último líder desse partido, Rui Matos, foi o cabeça de lista do ADN (Alternativa Democrática Nacional) nas regionais dos Açores, em 2024.
O politólogo da Universidade do Minho, questionado sobre a diferença entre a queda destes partidos de extrema-direita e o sucesso do Chega, argumenta que "está muito ligado à personalidade de André Ventura e ao seu mediatismo, conquistado inicialmente através do comentário desportivo e criminal, na CMTV, depois extrapolado pela sua candidatura à Câmara de Loures, pelo PSD, e pela sua posição acerca da comunidade cigana que levou o próprio CDS a romper com a coligação com o PSD".
Garante ainda que o partido também beneficiou "do contexto europeu e internacional, marcado pelo crescimento dos partidos da direita radical e pela sua crescente normalização, através do acesso ao poder" e "do recurso massivo às redes sociais, evitando a mediação da comunicação social no tratamento das suas mensagens, embora os media acabassem por funcionar como amplificadores da mensagem do Chega, atendendo ao fator novidade apresentado pelo seu radicalismo que se tornou central não apenas na informação como no comentário político".
"Partido de protesto e anti-sistema, o Chega não só secou os restantes partidos radicais e de protesto, como foi buscar eleitores aos tradicionais partidos de governo e ainda à abstenção, com isso chegando ao lugar de terceiro maior partido, com 50 deputados", explica.
Abstenção baixa
A abstenção foi mais alta em 2005 em comparação com 2024. Em 2005 foi de 34,97%, e, em 2024, atingiu-se um recorde de abstenção mais baixa desde 1995, com 33,8%. José Palmeira avisa que "tem que se ter cuidado com a análise comparativa da abstenção, devido ao facto de nem sempre os cadernos eleitorais representarem fielmente o número de eleitores".
"De qualquer forma, podemos justificar uma maior afluência nas últimas eleições com o facto de existir uma proliferação de debates televisivos, envolvendo todos os partidos com representação parlamentar, que dão uma maior visibilidade ao ato eleitoral. Com canais por cabo de notícias os eleitores também recebem mais informação política em permanência", elabora o politólogo.
"Além disso, o Chega teve a capacidade de ir buscar eleitores descontentes com o sistema político à abstenção. Por outro lado, há sempre razões conjunturais, como a vontade de contribuir para a clarificação política, quando as eleições são provocadas por crises políticas que antecipam o calendário eleitoral e põem em causa a estabilidade governativa.", finaliza.