Nos primeiros oito meses deste ano, turismo de compras, de visitantes oriundos de países fora da União Europeia, subiu 36% relativamente a 2018. Sistema renovado de reembolso do IVA foi decisivo, com os chineses a destacarem-se como os que mais gastam, mas é preciso reforçar ligações aéreas e melhorar a promoção na origem para aproveitar o novo filão.
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A maioria dos visitantes de fora da União Europeia teve como destino Lisboa, onde até esta quinta-feira, a Global Blue - empresa de reembolso de impostos para compras de turismo - promove a "Golden Week", uma campanha dirigida especialmente aos chineses, que, por esta altura do ano, têm vários feriados e aproveitam para tirar férias e viajar. A previsão é que, só durante esta semana, as vendas em loja, na zona da capital, aumentem, em média, 25%, à boleia dos visitantes oriundos da China.
Também o Porto demonstra potencial de atração deste segmento de elevado poder de compra, a par de zonas como Fátima ou Évora onde cada vez mais se ouve falar mandarim. "As nossas cidades têm tudo a ganhar com a aposta no turismo chinês", diz Renato Leite, diretor-geral da Global Blue em Portugal. E os números das receitas comprovam-no. São os chineses que lideram o valor médio de compra - obtido a partir da divisão do valor total gasto pelo número de transações efetuadas - , com 727 euros por operação, à frente dos norte-americanos (646 euros) e bem destacados dos russos (312 euros).
E o responsável sublinha ainda as mudanças em curso na China e as potencialidades que as mesmas representam para quem quiser atrair os visitantes orientais. "Há dois anos, houve 100 milhões de chineses a sair do país para fazer turismo, atualmente são 130 milhões e a partir de 2025 serão 200 milhões" , observa.
Um aumento que por cá também já se sente. Segundo números fornecidos pelo Turismo de Portugal (TdP) ao JN Urbano, em 2018, o mercado chinês foi responsável por 324 mil hóspedes (+16,8% face a 2017), 519 mil dormidas e 153 milhões de euros de receitas turísticas. Já este ano, de janeiro a julho, 226 mil chineses visitaram Portugal, o que representa um crescimento de 18,2% face ao mesmo período do ano passado.
Há lojas da Avenida da Liberdade em que os chineses já têm um peso de 50% no valor total das vendas
Para Renato Leite, estes são indicadores muito importantes, até porque, observa, os chineses reservam boa parte do seu orçamento de viagem para compras. "Ainda na China, cerca de 75% deles já planeiam o que vão comprar nas férias", explica. Admite porém que "Lisboa ainda não é vista como uma cidade de compras", como as grandes "catedrais" europeias da moda, Paris, Milão ou Londres, mas revela que "há lojas da Avenida da Liberdade em que os chineses já têm um peso de 50% no valor total das vendas. Sem eles, algumas não se aguentariam", diz.
Atento a este fenómeno, o responsável da Global Blue aponta porém alguns passos que é preciso dar para que os de fora olhem as cidades portuguesas como destino de ainda mais apetecível para compras. "Apesar deste crescimento, o Plano Estratégico de Turismo não tem incluído o "shopping" e isso é omitir uma componente muito importante. É verdade que tem sido feita alguma promoção na origem, mas é preciso reforçá-la e dar mais amplitude, nomeadamente informação sobre as iniciativas que estão a acontecer por cá", aponta.
Outro aspeto fundamental é a questão das ligações aéreas. Renato Leite destaca que "Portugal tem três voos semanais entre Lisboa e Pequim, enquanto Paris tem mais de 30". E considera mesmo que, à conta da saturação do aeroporto de Lisboa, "perdem-se milhões de receita de turistas".
Porto com enorme potencial
Já o Turismo de Portugal considera que o "turista chinês que viaja no segmento de luxo é mais maduro, com experiência em viajar e, por isso, vem à procura de atividades únicas e mais profundas". Fonte da instituição disse ao JN Urbano que não é notada a "distinção entre este e outro tipo de turista, no que respeita a compras" e acrescenta que essa "não é a motivação principal para visitar Portugal". Contudo, sublinha que a recente simplificação do sistema TaxFree em Portugal foi e importante e "no caso dos turistas chineses existem algumas facilidades, nomeadamente, o retorno ser concretizado através de plataformas de pagamento online muito comuns na China, o WeChat e Alipay".
Apesar de Lisboa se destacar na atração do turista que vem para comprar, também o Porto regista uma tendência apreciável de crescimento. Renato Leite aponta três fatores que justificam este crescimento: "Até há uns anos não havia na cidade uma zona de "shopping" de gama superior. Hoje os Aliados e a Boavista começam a organizar-se e começa a haver uma estrutura mais definida. Paralelamente, as grandes marcas começam a olhar para o Porto pela projeção internacional que a cidade tem ganho e, finalmente a questão das ligações aéreas. O Porto tem conseguido atrair novas companhias com grandes fluxos de viajantes".
Há portanto excelentes perspetivas no que toca a este tipo de turismo, que pode mesmo ser o novo filão das cidades portugueses, até porque, no caso chinês, tratam-se de viajantes com elevado poder de compra. O responsável da Global Blue destaca que a Portugal vem, sobretudo, "um segmento de classe alta", embora com os voos regulares entre Lisboa e Pequim, comece também a notar-se o aumento da classe média".
"Aos chineses, e aos visitantes estrangeiros em geral, é preciso dar-lhes informação. Eles vêm a Portugal pela nossa história e cultura, mas se não lhes dissermos nada eles passam e não compram, porque muitas vezes nem sabem que aqui existe o que eles procuram", conclui Renato Leite.