Interior e aldeias mais envelhecidas sem equipamentos. Autarcas dão mensalidade a quem instalar ATM e há carrinhas a levar residentes à máquina mais próxima.
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Há centenas de vilas e de aldeias sem máquinas multibanco e nem com os autarcas a oferecerem-se para pagar rendas mensais de várias centenas de euros conseguem o serviço para as populações, geralmente mais isoladas no Interior ou idosas. A denúncia é da Associação Nacional de Freguesias (Anafre), que exige que sejam garantidos serviços bancários em todo o território.
"Há freguesias a pagar mensalidades de 200 e de 250 euros para terem lá multibanco", denunciou Jorge Veloso, presidente da Anafre. Por exemplo, em S. Vicente da Beira, serão pagos 430 euros para garantir o ATM. Aliás, a associação aprovou uma moção, no último congresso, que reivindica a instalação de terminais em todas as freguesias por parte da Caixa Geral de Depósitos (CGD), cumprindo com "a sua função como banco público".
Não é certo o número de freguesias que perderam o seu único terminal ATM nos últimos anos. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), até dezembro do ano passado, revelam um ligeiro aumento do número de terminais - de 12 055, em 2020, para 12 486, em 2021. Porém, os dados só estão disponíveis a nível concelhio e não é possível discernir os valores nas freguesias. No entanto, há municípios, como Freixo Espada à Cinta, Castanheira de Pêra, Sardoal, Manteigas e Barrancos, que têm apenas três terminais para servir todo o território.
A SIBS, responsável pela maioria dos terminais em Portugal, revela que as suas caixas multibanco diminuíram 1,2% entre 2020 e 2021, para um total de 11 911, tendo "o número de equipamentos aumentado" apenas em nove distritos. A diferença entre este valor e o do INE está em terminais "de outras redes, nacionais, internacionais e privadas", cujos dados não conseguimos apurar e que, geralmente, procuram territórios com mais população e turistas. O que é certo é que são os municípios do Interior e os mais desertificados que ocupam o top dos concelhos com menor número de equipamentos.
Percorrer vários quilómetros
Em S. Vicente da Beira, uma freguesia de Castelo Branco, a insatisfação dos cerca de mil habitantes com a constante inoperacionalidade do multibanco acabou por ditar a retirada do mesmo. O presidente da Junta relata que telefonou "algumas vezes para a CGD, a pedir para ligarem a máquina, até responderem que, se continuasse a reclamar, iam retirá-la". E assim foi, no início do verão.
"Tentámos resolver, até porque o multibanco estava num edifício devoluto da CGD. Oferecemos um espaço na junta e 500 euros para mudarem o ATM, não adiantou. Nem sendo um banco público se prestou a manter um serviço fundamental para as populações", lamentou João Goulão. Na freguesia, onde já encerraram os bancos, não há médicos de família suficientes e a "correspondência chega com três semanas de atraso", a única solução tem sido a carrinha da Junta que, às segundas e às quintas-feiras, entre as 9 e as 12 horas, leva os residentes até ao ATM mais próximo. Se correr bem, a máquina em Tinalhas, a 12 quilómetros (km), está operacional. Caso contrário, a viagem prossegue até Alcains, a 26 km. Ida e volta, várias vezes ao dia, todas as semanas, representa um "custo elevado para a freguesia".
Por isso, estão a negociar "com outro banco, ao qual vamos pagar 430 euros mensais para colocar o ATM". João Goulão acrescenta que, "umas semanas depois de ter tirado a máquina, a CGD já tinha uma proposta a custar 250 euros mensais, mas até a Oposição votou contra mantermos relacionamento com um banco que nos falhou e preferimos pagar mais a outro". Em resposta ao JN, a Caixa afirmou que não existem obrigações de serviço público por parte do banco do Estado, que concorre em condições de igualdade com a restante banca. "A CGD tem estado a negociar com a Junta de São Vicente da Beira, de modo a garantir este serviço à população. Apresentamos uma proposta e estamos à espera de uma resposta da autarquia".