Há doentes com cancro colorretal, alvo de cirurgias nos hospitais públicos e que deviam fazer agora colonoscopias de monitorização, que estão a ver os exames a serem marcados para daqui a um ano. A denúncia é do presidente da Europacolon, Vítor Neves.
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Os doentes, alvo de cirurgias no Serviço Nacional de Saúde (SNS) para o tratamento de cancros colorretais, não estão a fazer as colonoscopias de monitorização em tempo útil. Vítor Neves, presidente da Europacolon, associação que apoia os pacientes com cancro digestivo, denuncia a dilação na marcação destes exames: "Há colonoscopias com sedação que estão a ser marcadas com um ano de distância nos hospitais centrais para pessoas que fizeram cirurgias" e que deviam ser monitorizadas agora.
Embora não queira nomear as unidades hospitalares em causa, Vítor Neves garante que a associação nunca recebeu tantas reclamações e pedidos de apoio de doentes como neste período da pandemia, em que os rastreios públicos deixaram de ser feitos e os exames e os tratamentos avançam com muita dilação. "Também a radioterapia e os exames de diagnóstico estão a ser feitos com atrasos enormes", adverte a Europacolon.
Aliás, um estudo da MOAI Consulting, elaborado com base nos dados do portal da transparência do SNS, identificou uma diminuição de 31% na realização de meios complementares de diagnóstico entre janeiro e julho de 2020 face a igual período de 2019. Feitas as contas, são menos 16,8 milhões de exames realizados. Por exemplo, nas endoscopias gastroenterológicas, a redução ascende a 41%.
Soma-se a manutenção dos centros de saúde em serviços mínimos, desvalorizando o papel fundamental dos cuidados de saúde primários na deteção de doenças graves, como os cancros, numa fase inicial, em que as taxas de sobrevivência são muitos maiores. Em seis meses, estima, deixaram de fazer cerca de 27 mil diagnósticos de cancro.
"Os diagnósticos estão a ser feitos nas urgências dos hospitais. As referenciações das unidades de saúde primárias para consultas nos hospitais diminuíram. Quando os doentes aparecem nas urgências, os casos já estão muito avançados", atenta Vítor Neves, lembrando a situação específica do cancro do intestino, que mata 12 pessoas por dia. "A mortalidade pode ser reduzida em 50%, desde que se faça, pelo menos, a pesquisa de sangue oculto nas fezes. Mas os rastreios estão parados", argumenta.
E já não se justifica que assim seja. A Europacolon reivindica a criação de uma estrutura específica pelo Ministério da Saúde para a recuperação de doentes e o funcionamento em pleno dos centros de saúde, que são a "porta principal na deteção dos primeiros sintomas de doença". O JN pediu esclarecimentos ao Ministério da Saúde, mas não obteve resposta em tempo útil.
Rastreio da Europacolon nas farmácias até 19 de outubro
Há sete anos que a Europacolon realiza, em parceria com as farmácias Holon, um rastreio gratuito do cancro do intestino, que passa pela análise da presença de sangue nas fezes. O exame é gratuito e pode ser feito até 19 de outubro.
Nestas campanhas, que chegam a cerca de duas mil pessoas, detetam-se entre 5 a 10% de casos positivos. Se tiver mais de 50 anos, poderá dirigir-se a uma das farmácias Holon (a lista das farmácias aderentes está disponível na página de internet da Europacolon). O técnico dará o kit e explicará como fazer a colheita nas fezes. Depois, terá de devolver o kit à farmácia, que analisará gratuitamente.
Se o resultado for positivo, receberá uma carta para apresentar ao médico de família.