Tempo de trabalho dedicado pelos médicos, enfermeiros, psicólogos e serviço social aos doentes em Cuidados Paliativos considerado "preocupante". A mediana da assistência médica são nove minutos por dia, mas há casos em que não chegam a um minuto, revela relatório. Estima-se que mais de 102 mil adultos precisam de cuidados paliativos, mas só um quarto tem acesso. Nas crianças acessibilidade é pior.
Corpo do artigo
Estas são algumas das conclusões do capítulo "Atividade Assistencial das Equipas/ Serviços de Cuidados Paliativos" do relatório de Outono de 2019 do Observatório Português de Cuidados Paliativos, divulgado esta manhã de quarta-feira.
"Ao nível do tempo de trabalho semanal dedicado a cada doente, observam-se alguns dados importantes e preocupantes, com muito baixo tempo de dedicação, com o mínimo de seis minutos por doente e mediana de 45 minutos na área da Medicina, o que perfaz menos de um minuto por dia (mínimo) e mediana de nove minutos por dia", pode ler-se no documento, que tem por base informação cedida por metade das equipas existentes.
Os autores acrescentam que "estes valores em escalas proporcionais, mas simultaneamente preocupantes revelam-se na áreas de enfermagem, psicologia e serviço social".
Os valores explicam-se por uma "grande sobrecarga assistencial" que tem implicações reais no tempo de dedicação semanal a doentes. De resto, os rácios de médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais por doentes são "consideravelmente baixos", pondo em causa "a verdadeira integralidade dos cuidados" e atenção aos cuidados globais em tempo útil, refere o documento.
Segundo o relatório, estima-se que, em 2018, 102.452 doentes adultos necessitaram de cuidados paliativos, mas apenas um quarto (25.570) tiveram acesso a tais cuidados, nas diferentes valências.
Ainda assim, o Observatório entende que a taxa de acessibilidade "está em consonância com o preconizado para dois anos de implementação de um programa de cuidados paliativos. E realça que o número será superior tendo em conta que os dados respeitam apenas a metade das equipas em atividade.
Na área pediátrica, estima-se que 7.828 doentes tenham necessitado de cuidados paliativos em 2018, mas só 90 tiveram resposta, o que corresponde a uma taxa de acessibilidade de 0,01%.
O relatório indica ainda que 80,7% dos adultos admitidos tinham como base uma doença oncológica, enquanto nos em idade pediátrica, 89.4% era de base não oncológica;
Do universo de doentes adultos admitidos, 58,5% dos doentes morreram e 21,4% tiveram alta.
Nos doentes em idade pediátrica, 47,5% faleceram e 25% tiveram alta.