Dados provisórios mostram redução das vítimas mortais. Dentro de meses saber-se-á se o número oficial continua a subir.
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Pelo segundo ano consecutivo, está a baixar o número de pessoas que morrem no local do acidente ou a caminho do hospital. Os dados provisórios de 2019 indicam que a sinistralidade tirou a vida a 475 pessoas, menos do que as 508 do ano anterior. Todavia, estão por apurar ainda os números oficiais - as mortes que ocorrem no mês seguinte ao acidente e que estão a subir desde 2016.
Para já, e olhando aos dados provisórios, vê-se que a redução do número de mortos no continente é marcada por uma descida excecional: em Setúbal, até 21 de dezembro, a sinistralidade mortal vitimou 25 pessoas - perto de um terço das 65 assinaladas em 2018.
A queda em Setúbal foi tão abrupta que, sozinha, explica a descida em todo o continente. De acordo com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), entre janeiro e 21 de dezembro tinham morrido em todo o continente 462 pessoas, uma queda de 6% comparando com o ano anterior. Retirando Setúbal, todavia, o cenário é o oposto: em vez de uma descida, teria havido uma subida de 3%.
mais patrulhamento
Em Setúbal, o número de mortes cresceu entre 2016 e 2018, ano em que foi o distrito mais mortífero do país. A principal causa, referiu ao JN o comandante do Destacamento de Trânsito do distrito, foi a velocidade excessiva e desadequada à via. Em 90% dos acidentes, o condutor teve a culpa e grande parte por velocidade excessiva.
"Para diminuir estes dados, a GNR identificou focos problemáticos no distrito em 2018 e este ano intensificou a fiscalização", afirmou o comandante Pereira. A diminuição ficou, por isso, a dever-se à intensificação do patrulhamento pela GNR em 2019.
A diferença dos 30 dias
Um outro fator poderá fazer inverter o cenário traçado pelos dados referentes às mortes a 24 horas. É que a descida de 2018 transforma-se numa subida abrupta quando se olha para as mortes nos 30 dias após o acidente. Em 2017, houve uma diferença de 92 mortes entre os dados a 24 horas e os dados a 30 dias. Em 2018, disparou para 167, quase o dobro.
Para 2019 é impossível fazer estimativas, já que a ANSR deixou de publicar a informação mensal, como era usual em anos anteriores. Agora, só estão disponíveis dados acumulados do ano, sem desagregar por mês, e apenas para as vítimas a 24 horas.
É possível, porém, olhar para outro indicador que poderá antecipar os números finais da sinistralidade: os feridos com gravidade. Muitos não sobrevivem, tornando mais negra a sinistralidade e, a 21 de dezembro, já havia mais 23 feridos graves do que em todo o ano anterior. Este indicador, aliás, está a aumentar desde 2016.
Neste trabalho, foram usados dados da ANSR (até 21 de setembro), da PSP (até 29 de dezembro) e da GNR (todo o ano). A informação sobre os dois últimos dias do ano na área da PSP foi recolhida pelo JN.
A ANSR dará uma conferência de imprensa, hoje. Não respondeu ao pedido de informações do JN.
PENSE 2020
Meta ainda longe
2020 é o último ano do Plano Estratégico Nacional de Segurança Rodoviária, mas é cada vez mais difícil alcançar a meta de reduzir as mortes em 56%, face a 2010. Este ano devia acabar com 412 mortes, a 30 dias (ler P&R).
Dados finais tardam
Só dentro de meses é que a ANSR publicará os dados a 30 dias. A lei diz que só são definitivos seis meses depois da ocorrência.
"Falta de vontade"
A Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda lamenta a "falta de vontade política" para cumprir o PENSE 2020.
Perguntas e Respostas
Telemóvel bloqueado
Usar um aparelho eletrónico ao volante é tão perigoso quanto conduzir sob o efeito do álcool e chegou a admitir-se bloquear o sinal de telemóvel nas estradas A medida, todavia, não avançou.
Usar drones
Espanha já usa drones para controlar infrações nas estradas com maior sinistralidade, mas em Portugal a proposta não passou disso mesmo.
Inspecionar motas
Dentro de dois anos, a União Europeia obrigará todos os países a fazer inspeções periódicas a motas. Portugal tem uma lei que o manda fazer desde 2012, mas nunca a regulamentou. O Governo anterior chegou a prometer esta medida para junho de 2018, mas não concretizou. Na altura, a proposta foi recebida com fortes protestos pela comunidade motard.
Até 125 cc sem carta
Foi outra medida posta em cima da mesa, mas não concretizada: voltar a obrigar os condutores de mota até 125 centímetros cúbicos de cilindrada a tirar a carta de condução de mota. Hoje, é possível conduzir estas motas com carta de ligeiro.
Conduzir devagar
No final de outubro foi finalmente publicado o novo regulamento de sinalização de trânsito. Entre eles está o de zona de coabitação, ou seja, locais onde as pessoas têm prioridade sobre os carros. Há também cada vez mais zonas com limite de velocidade de 30 km/hora.
O Ministério da Administração Interna admitiu várias medidas de preevenção que nunca avançaram. Só os novos sinais de trânsito foram publicados no final de 2019.
Por que que razão se fazem as contas a mortos a 24 horas e a 30 dias?
Portugal sempre fez as contas a quem morria no local do acidente ou a caminho do hospital (são as mortes a 24 horas). Mas as estatísticas internacionais usam o critério dos 30 dias, para incluir quem fica tão ferido que acaba por morrer no mês seguinte ao acidente. O Despacho n.º 27808/2009 definiu que Portugal considera vítima mortal quem, "por causa imputável ao acidente de viação, faleça no local onde este se verificou ou venha a falecer no prazo imediato de 30 dias". É por isso que este indicador só é apurado desde 2010.
Comparando com os outros países europeus, em que posição está Portugal?
No global, a Europa é um continente seguro, até nas estradas. Mas há diferenças entre os países e Portugal não se sai bem. Em 2017, diz a Comissão Europeia, morreram 58 pessoas por milhão de habitantes, acima das 49 pessoas da média da União Europeia e muito longe dos 25 mortos por milhão de habitantes na Suécia, o país mais seguro. A Roménia está no fundo da tabela, com 99 mortes. Entre 2010 e 2017, porém, Portugal foi o quarto país com maior redução da sinistralidade mortal: 36%. Melhor só a Grécia, Estónia e Letónia.
Os acidentes de trator entram nestas contas?
Não. Em Portugal, só se considera "acidente rodoviário" o que ocorre na via pública ou tenha tido origem na via pública. Tem também que envolver pelo menos um veículo em movimento e que ser do conhecimento da GNR ou da PSP. Também só são contabilizados os acidentes que causem vítimas ou danos materiais.
Que tipo de ferimentos são classificados como graves?
É classificado como ferido grave qualquer pessoa cujos ferimentos resultem de um acidente de viação e obriguem a mais de 24 horas de internamento no hospital.
Em Portugal, onde é mais grave a sinistralidade?
São claramente as ruas das cidades e vilas (159 mortes em 2018) e as estradas nacionais fora das localidades (116) e dentro das localidades (65).
Que tipo de acidente é mais mortífero?
Por esta ordem, as colisões frontais (117 mortes em 2018), despistes (109) e os atropelamentos (85).
Por que razão só há dados para o continente?
As estatísticas de sinistralidade são compiladas pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, que não tem jurisdição sobre as regiões autónomas dos Açores e da Madeira. Por isso, só divulga dados para o continente português.