Carta aberta a pedir suspensão da imunização dos 5-11 anos passa de 27 para 91 subscritores. Menos de 20 mil crianças inscritas na toma da primeira dose este fim de semana. DGS e Ordem dos Médicos garantem segurança da vacina e frisam que ainda vale a pena.
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Há cada vez mais profissionais de Saúde contra a vacinação de crianças saudáveis dos 5 aos 11 anos. A carta aberta dirigida, no passado dia 26, às autoridades de Saúde a pedir a suspensão do processo de imunização daquela faixa etária passou de 27 para 91 subscritores, na esmagadora maioria médicos de várias especialidades. Hoje e amanhã, os centros de vacinação voltam a dedicar-se em exclusivo aos mais pequenos, mas a adesão para as primeiras doses está abaixo dos 10%.
Até ontem, estavam agendadas 17 mil crianças para iniciarem a vacinação, podendo chegar às 20 mil, como anunciou a diretora-geral da Saúde. De um total de 626 mil menores que compõem o grupo etário dos 5-11 anos, 301 mil já tomaram a primeira dose e cerca de 100 mil contraíram a doença nos últimos meses. Há, portanto, cerca de 225 mil crianças elegíveis para a primeira dose que podem aproveitar este fim de semana. Com uma adesão entre os 7,5% e os 8%, Graça Freitas já veio anunciar que a modalidade casa aberta (que dispensa marcação prévia) estará disponível até às 13 horas.
Hoje e amanhã, decorre também a toma da segunda dose para as crianças que iniciaram a imunização em dezembro. Nestes casos, os pais devem aguardar a convocatória por SMS, mas a diretora-geral da Saúde já informou que, se não receberem, podem apresentar-se no centro de vacinação. É o derradeiro esforço para conseguir inocular o máximo de crianças numa altura em que pais e educadores continuam com dúvidas e receios. Mesmo depois de o Infarmed divulgar dados sobre a segurança das vacinas e de esta semana o Instituto Nacional de Medicina Legal ter deixado claro que a morte da criança de 6 anos, no dia 16 de janeiro no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, não está relacionada com a vacina.
A posição dos especialistas que assinam a carta - 89 médicos, um dentista e um farmacêutico - tem impacto na adesão, como reconhece Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos (OM), considerando que é preciso "comunicar melhor e tornar todo o processo mais transparente".
Entre os subscritores há pediatras, médicos de família, pneumologistas, cardiologistas, infeciologistas, internistas, intensivistas, entre outros. E nomes que têm publicamente discordado da vacinação das crianças saudáveis, como Jorge Amil Dias, pediatra e presidente do Colégio de Pediatria da OM, Cristina Camilo, pediatra e presidente da Sociedade de Cuidados Intensivos Pediátricos, e Jorge Torgal, médico de Saúde Pública.
Vacinar no pico preocupa
Os subscritores lembram que as crianças e jovens "só muito raramente desenvolvem doença grave, pelo que não se justifica a sua vacinação em massa" e alertam que "podem ocorrer efeitos secundários não negligenciáveis, como miocardites". "O mais preocupante", acrescentam, é a vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos estar a decorrer em pleno pico pandémico, podendo a vacinação de crianças infetadas poucos dias antes ou depois da vacina "vir a traduzir-se num aumento da incidência de casos de miocardites, efeitos deletérios no sistema imunitário ou outras reações adversas, riscos potencialmente graves e eventualmente letais".
O coordenador da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 da DGS, Válter Fonseca, e o coordenador do Gabinete de Crise contra a Covid-19 da Ordem dos Médicos, Filipe Froes, discordam da posição dos críticos. Garantem que a vacina é segura, mesmo em pessoas que tiveram covid-19 há pouco tempo, e sublinham que "vale muito a pena" porque, embora seja muito mais raro do que nos adultos, há crianças que desenvolvem doença grave.
Imunização de menores no Mundo
Suécia - Não recomenda
O país não recomenda a vacinação entre os 5 e os 11 anos. A autoridade de Saúde sueca argumenta que com um "baixo risco de doença grave" de covid nas crianças, não é necessário imunizá-las.
Itália - Dose de reforço
O reforço foi aprovado pela agência farmacêutica para jovens entre os 12 e os 15 anos. Itália foi o primeiro país da União Europeia a iniciar a imunização dos menores.
Cuba - A partir dos dois anos
Tornou-se o primeiro país do Mundo a vacinar crianças a partir dos dois anos de idade. O Governo cubano diz que já vacinou 95% das pessoas até aos 18 anos.
Dinamarca - Voltar atrás
A autoridade de Saúde está a ponderar terminar com a recomendação da vacina entre os 5 e os 11 anos, devido à menor gravidade da ómicron e à imunidade de grupo.