A taxa de mortalidade materna aumentou, em 2017, para níveis que não se verificavam desde 1991. Uma situação que está a preocupar a classe médica, que exige às autoridades de saúde uma análise caso a caso, tal como está a ser feito com a mortalidade infantil, que está também a subir.
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Ao JN, a Direção-Geral da Saúde (DGS) associa as mortes ao aumento da idade das mães e vai avançar com uma análise detalhada aos dados.
Em 2017, registaram-se 10,4 óbitos maternos por cada cem mil nados-vivos. Pior só mesmo em 1991, quando a taxa atingiu os 12 óbitos, num ano em que nasceram 116 mil bebés. Contudo, sublinhe-se, Portugal há muito que não regista cem mil nascimentos. Calculando então com o número de nascimentos ocorridos no ano em análise (86 154), chegamos à conclusão de que, em 2017, morreram nove mulheres devido à gravidez, ao parto ou ao pós-parto.
Ao JN, a DGS faz saber que, "entre 2014 e 2017, quase 60% das mortes maternas ocorreram em mulheres com 35 ou mais anos de idade", tendo estas sido responsáveis por cerca de 30% de todos os nados-vivos. Aquela autoridade de saúde explica, assim, que a "idade mais elevada da mãe, a patologia subjacente que lhe está associada, como por exemplo a hipertensão arterial, os antecedentes obstétricos, podem aumentar a probabilidade de morte materna".
Face a estes números - em 2000, atingiu-se o valor mais baixo de sempre, com uma taxa de 2,5 num ano em que nasceram 101 mil bebés -, a DGS vai analisar em detalhe os dados. "Com a colaboração dos serviços de saúde, comissões e grupos de trabalho que colaboram com a DGS, as mortes maternas serão analisadas retrospetivamente e prospetivamente através da reformulação do inquérito epidemiológico que será aplicado a todas as mortes maternas", fez saber, por escrito.
Óbitos subestimados
A classe médica ouvida pelo JN reage com preocupação, pede uma análise exaustiva e admite mesmo que os óbitos estejam subestimados. "Desde 2013 que está a subir ao ritmo de uma morte por ano. Nove mulheres é uma subida importante e significativa", comenta o presidente do Colégio de Especialidade de Ginecologia/Obstetrícia da Ordem de Médicos. Que alerta que os números serão superiores, uma vez que esta taxa é calculada tendo por base os nados-vivos, sendo que está também a aumentar o número de nados-mortos. "Quanto mais nados-mortos, maior a taxa de mortalidade materna", explica João Bernardes.
Para o diretor do serviço de Ginecologia/Obstetrícia dos Hospital de S. João, estamos perante dados "preocupantes" que devem ser "estudados um por um, para perceber as causas". Como sejam o facto de um terço dos bebés serem filhos de mães com mais de 35 anos, diz Nuno Montenegro. "As gravidezes gemelares, o aumento do parto domiciliário, a degradação dos serviços e a falta de profissionais" são também fatores a ter em conta, acrescenta João Bernardes. Tudo somado, somos o quarto país da União Europeia com a pior taxa de mortalidade.