Grande avanço da medicina permite identificar o que antes permanecia desconhecido, avançam especialistas.
Corpo do artigo
"É possível que já tenha havido outras mortes em Portugal por febre hemorrágica da Crimeia-Congo mas que, por diversas razões, não foram diagnosticadas”, disse ao JN o médico Jaime Nina, infecciologista no Instituto de Medicina Tropical. A morte de um homem com mais de 80 anos, agricultor, residente em Freixedelo (Bragança), com a doença, ao que tudo indica, transmitida por carraças é a primeira confirmada pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
“Há uma atenção especial na Europa para esta doença, há forma de a diagnosticar corretamente e, perante os sintomas, foi possível confirmar que estávamos perante um caso de Crimeia-Congo”, afirmou o especialista, que acredita que, embora sem confirmação, “já terão ocorrido outras mortes nos últimos anos”.
Mais diagnóstico
“Não há motivos para alarme”, garante Gustavo Tato Borges, presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública. Nem para esta febre hemorrágica nem para os outros vírus que, nos últimos tempos, têm estado nas notícias. “Temos a sensação de que há mais doenças, mas, na verdade, há uma grande evolução tecnológica na capacidade de diagnóstico que permite identificar o agente que nos pôs doente e as doenças passaram a ter um nome”, refere Tato Borges.
“Todos os vírus de que se fala atualmente, com exceção do SARS-CoV-2 (covid-19), já são conhecidos há dezenas de anos, mas agora a técnica permite-nos identificar concretamente cada um”, explica o infecciologista Jaime Nina.
Pessoas e bens viajam
As viagens de pessoas e mercadorias de e para todo o Mundo e as mudanças climáticas, que provocam a alteração de diversos vírus, fazem com que doenças que durante muito tempo estavam circunscritas a uma área geográfica surjam agora em outros países e continentes. “Vivemos num mundo global onde as pessoas se movimentam e os vírus também”, frisa Gustavo Tato Borges.
A relação dos portugueses com os vírus, de acordo com os infecciologistas contactados pelo JN, mudou desde a pandemia.
“Há uma maior preocupação em catalogar as doenças. O que antes era só uma virose agora é uma virose x ou y”, sublinha o presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública.