Cerca de seis mil pessoas passaram pelos 150 confessionários no primeiro dia. Padres dizem que se sentem mais à vontade a falar com quem não conhecem.
Corpo do artigo
Estefânia Castro é coordenadora de sacerdotes no Parque do Perdão, em Belém, uma iniciativa que tem tido “bastante afluência”. “Não estávamos nada à espera”, confessa. Ontem, “a adesão foi menor por causa da vinda do Santo Padre” mas no dia anterior superou todas as expectativas, com cerca de seis mil peregrinos a passarem pelos 150 confessionários construídos por reclusos dos estabelecimentos prisionais de Coimbra, de Paços de Ferreira e do Porto.
“Temos muitos sacerdotes que aparecem aqui e pedem para se inscrever, o que tem ajudado imenso. Ainda assim, temos falhas em alguns idiomas. Por exemplo, há muitos peregrinos espanhóis. Por isso, precisamos de mais padres que saibam falar esta língua”, adiantou ao JN, que constatou haver quem fique horas na fila à espera da sua vez.
Célia Villegas, de 21 anos, veio de Espanha e desconhecia que os confessionários foram feitos por reclusos. Não é muito de se confessar, mas ficou entusiasmada quando soube que podia fazê-lo com um pároco que nunca vira. “Anima-me mais fazê-lo”, admite.
De Córdoba, Marta Vasquez refere que a experiência de se confessar com um padre desconhecido permitiu-lhe abrir o coração. “É uma experiência que não vou voltar a viver. Há muito tempo que não me confesso. E não há melhor maneira de o fazer. É um ato necessário”, diz.
Pedro Nogueira tem 19 anos. Chega de Modivas, em Vila do Conde, mas faz parte da vigararia da Trofa. Embora admita que “não tenha consciência de nada muito grave”, não quis deixar de receber “a graça de Deus” em Belém.
Ao chegar ao Parque do Perdão, os sacerdotes dirigem-se à tenda de check-in, sendo depois encaminhados para os respetivos confessionários pelos voluntários. A entrada é interdita a jornalistas, por ser um espaço sagrado e de recato.
Caio Santos, 29 anos, é padre no Brasil há três. É um dos 600 sacerdotes inscritos e está a confessar em português e inglês, dois dos cinco idiomas oficiais da JMJ. Conta que o faz para levar a “misericórdia de Deus a todas as pessoas”. “Os peregrinos estão com um padre que nunca viram e que não vão ver novamente. Creio que isso pode favorecer as pessoas mais tímidas, que têm vergonha de se confessar com padres de quem são mais amigos”, admite.
Para o sacerdote italiano Rafael Vignaroli, a viver em Madrid, a experiência foi “muito bonita”, mas “muito triste” porque as duas horas passaram a voar. “Eu e todos os sacerdotes não paramos. Nota-se que o Mundo precisa do carinho e da misericórdia de Deus”, finaliza.