
PSP registou 17 mortos entre 1 de janeiro e 16 de julho de 2024
Foto: Amin Chaar / Global Imagens
Até julho, houve quase 40 acidentes por dia com veículos de duas rodas. Especialistas lamentam a falta de educação rodoviária em Portugal.
A pandemia de covid-19 e o congestionamento do trânsito nas cidades têm levado cada vez mais pessoas a circular em veículos de duas rodas nas estradas portuguesas, seja em bicicletas, trotinetas ou motas. Entre 1 de janeiro e 16 de julho deste ano, houve quase 40 sinistros por dia envolvendo esta categoria de veículos e cerca de três mortes por semana. Nos últimos 30 anos, as vítimas mortais em motas caíram a pique, mas a sinistralidade continua a preocupar. Todavia, segundo os dados das autoridades, os carros continuam envolvidos em mais de metade dos acidentes.
Nos últimos meses, especialmente naqueles em que houve bom tempo, foram raros os dias em que não morresse gente nas estradas. Este fim de semana, morreram três motociclistas, dois no Grande Porto e um no Sul. Apesar de haver muitas vítimas ao volante de carros, os motociclistas e os utilizadores de outros veículos de duas rodas, como as bicicletas ou as trotinetas, estão mais vulneráveis a um qualquer embate ou despiste, já que não têm uma estrutura a protegê-los, como acontece com os automóveis. António Manuel Francisco, do Grupo Ação Motociclista, aponta que não se pode olhar para os números da sinistralidade “a curto prazo”. “Tem de ser um objeto a longo prazo. Os números estão a baixar”, diz.
Segundo dados disponibilizados pelo próprio, e que constam de um relatório da comissão de mobilidade da Federação de Motociclismo de Portugal, a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) registava 610 mortes a 24 horas de motociclistas - inclui motociclos e ciclomotores - em 1995. Em 2022 e 2023, as vítimas mortais “rondavam as 100”, afirma António Manuel Francisco, embora o “parque circulante seja muito superior ao dos anos 90”. Nessa década, duas mil pessoas morriam todos os anos, nas estradas, em todo o tipo de veículos.
De acordo com dados da GNR e da PSP, entre 1 de janeiro e 16 de julho deste ano, houve 7476 acidentes em veículos de duas rodas, 80 vítimas mortais, 530 feridos graves e 6153 feridos leves. Os números da primeira metade de 2024 estão em linha com os valores registados nos últimos dois anos, com exceção de pequenas variações.
"Falta vontade política"
Contudo, no caso da Polícia, que atua na malha urbana, as mortes de condutores de veículos de duas rodas deverão ser superiores este ano. Até 16 de julho de 2024, houve 17 vítimas mortais registadas pela PSP. No ano passado, no total, foram contabilizadas 18 mortes (ler info). “Qualquer vítima é relevante, mas a sinistralidade a 24 horas tem diminuído”, concorda Manuel Marinheiro. Para o presidente da Federação de Motociclismo de Portugal, a maioria dos acidentes tem ocorrido devido a fatores humanos, que tanto podem ser cometidos por automobilistas, como por motociclistas. O responsável refere-se ao excesso de velocidade, ao uso do telemóvel ou à condução sob o efeito de álcool.
A Federação de Motociclismo de Portugal e vários motoclubes têm alertado para outra realidade: a dos estafetas de plataformas eletrónicas que conduzem motas e têm de entregar rapidamente a comida aos clientes. “As condições em que trabalham não são as melhores e algumas viaturas não estão aptas para circular”, diz Manuel Marinheiro.
António Manuel Francisco critica a falta de educação rodoviária nas escolas. “Falta vontade política”, refere. O membro do Grupo Ação Motociclista refere que a preocupação, nos últimos anos, tem sido somente com as “receitas dos radares”.
Os acidentes fatais em julho
8 julho
Colhido por camião
Um menino de 11 anos foi colhido por um camião em Estarreja. A criança estava de bicicleta, desequilibrou-se, caiu e foi depois atropelada pelo pesado. O camionista pensou que o menor já tinha passado. A mãe do menino seguia atrás de carro e terá assistido ao acidente.
14 julho
Despiste e incêndio
Quatro jovens, entre os 18 e os 19 anos, morreram e dois ficaram feridos com gravidade num acidente de um carro, em Melgaço. A viatura embateu contra uma árvore e depois incendiou-se. Segundo testemunhas no local, o sinistro deveu-se a um “desafio” que passava por acelerar o carro numa estrada secundária, junto a um parque de campismo.
19 julho
Colisão entre motos
Uma colisão entre duas motas provocou três mortos, na freguesia de Montenegro, na zona da concentração motard em Faro. As vítimas mortais foram dois homens, de 31 e 44 anos, e uma mulher de 28.
30 julho
Embate com carro
Um jovem de 22 anos morreu após embater com a mota que conduzia contra um carro, na zona industrial de Lordelo, em Paredes. O sinistro ocorreu na ponte que passa por cima da A42. O motociclista deslocava-se diariamente para o trabalho naquela veículo. O jovem ficou ferido com gravidade, mas não resistiu à violência da colisão com o automóvel.
Saber mais
74% dos acidentes envolveram carros, entre janeiro e março deste ano, segundo dados recentes da ANSR.
1782 sinistros registados com motociclos nos primeiros três meses de 2024, aponta a Segurança Rodoviária.
Transporte
O primeiro barómetro nacional da bicicleta, promovido por várias associações em 2023, mostra que a maioria das pessoas usa a bicicleta uma vez por semana, por motivos de lazer ou desporto. Mais de 38% não a usam como transporte porque “não se sentem confortáveis no trânsito”.
Velocípedes
Entre janeiro e março de 2024, a ANSR salienta que houve um aumento de 33% no número de acidentes que envolveram bicicletas e trotinetas, face ao mesmo período de 2019. Nos primeiros três meses deste ano, registaram-se quatro mortes e 32 feridos graves.
Segurança
A maioria dos inquiridos (86%) de um recente estudo do Observatório ACP considera que deveria ser obrigatório usar capacete quando se anda numa bicicleta ou numa trotineta.

