"Há utentes que apanharam Covid no hospital", diz presidente das Misericórdias
O presidente da União das Misericórdias Portuguesas diz que há utentes de lares que estão a ser infetados nos hospitais.
Corpo do artigo
Dos cerca de 200 óbitos de idosos residentes em lares, Manuel Lemos reconhecia que 34 casos diziam respeito às misericórdias.
"Temos dois casos de pessoas que morreram nos hospitais", exemplifica Manuel lemos. Depois dos óbitos, os profissionais de saúde foram aos lares onde as vítimas fazer testes "e deram todos negativos". A conclusão que retira é que os utentes "apanharam Covid-19 no hospital. Não pode ser de outra maneira".
Os relatos de mortes e infetados em lares aumentam a cada dia. Em Famalicão, o Centro Social de Bairro confirmou que tem 25 utentes e dez funcionários infetados. Dos utentes infetados, seis faleceram e três dos que estavam hospitalizados já regressaram ao lar. A presidente da instituição, Ana Maria Silva, garante que, quando começaram a perceber a existência de idosos com sintomas, e a confirmação de infetados, foi ativado o plano de contingência, que fez com que os utentes fossem separados. Em Ílhavo, subiu ontem para 10 o número de vítimas mortais no Lar de São José, com a morte de dois utentes.
Em Matosinhos, o Hospital Pedro Hispano recebeu 11 idosas, provenientes do lar Mundo das Ternuras que, entretanto, foi encerrado pela autoridade de saúde local, por ser, aparentemente, ilegal. Do total de doentes, seis foram reencaminhados para o Hospital das Forças Armadas e um para o Hospital de Santo António, ambos no Porto. Os restantes quatro ficaram no Hospital de Matosinhos.
Retaguarda
Em relação às críticas das instituições sobre estarem a receber idosos infetados em lares, a ministra da Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, adiantou que 17 estruturas já ativaram o plano de retaguarda para retirar utentes devido à pandemia.
No entanto, a coordenadora do BE, Catarina Martins, sugeriu que se avançasse para a requisição de instituições de saúde fechadas para apoiar os lares. "Parecia-nos um passo fundamental, de sensatez para acudir a esta crise", defendeu, à saída da quarta reunião que avalia a situação epidemiológica.
As declarações foram bem vistas pelo presidente da Federação Nacional de Instituições de Solidariedade. "Gostei que abordasse a questão. Faz sentido", disse Lino Maia, acrescentando que mantém, ainda, uma posição favorável em relação à requisição civil de funcionários. "É uma hipótese que não devemos pôr de parte", concluiu.
SNS
Exigem 20% de médicos e enfermeiros
"Nenhum lar em Portugal está atualmente, e no quadro desta pandemia, preparado para dar uma cobertura de médicos e enfermeiros aos seus utentes e é urgente capacitá-los", declarou ao JN o psiquiatra Caldas de Almeida, da União das Misericórdias Portuguesas, estrutura que aglutina 512 lares em Portugal com cerca de 28 mil utentes; no total, no nosso país, há 2520 lares para residência e tratamento de idosos. A União das Misericórdias está a liderar um novo movimento com várias exigências ao SNS. "O Ministério da Saúde, através das unidades locais de saúde, tem que alocar recursos diretamente aos lares. E é viável fazer isto, na minha opinião, já no próximo mês", diz Caldas de Almeida.