Um terço das operações de socorro do INEM é assegurado com recurso a turnos extraordinários dos técnicos de emergência médica, afirmou Paulo Campos, presidente deste instituto público, na Comissão Parlamentar de Saúde. O responsável admitiu que "30% de horas extras são muitas horas extras" em resposta à deputada comunista Paula Santos.
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O problema da falta de técnicos (de ambulância de emergência e de comunicações), e o recurso a horas extraordinárias para colmatar as falhas, foram as questões mais abordadas pelos deputados, uma vez que está em curso desde a meia-noite de quarta-feira uma greve ao trabalho suplementar.
Greve que, segundo Paulo Campos, registou uma adesão de zero por cento. O presidente do INEM deu como exemplo as festividades da noite de S. João nas cidades do Porto, Vila Nova de Gaia e Braga, onde o dispositivo extraordinário montado foi todo feito com recurso a trabalho suplementar que continuou a funcionar mesmo depois do início da paralisação.
A informação foi contrariada, porém, à margem da audição, pelo Sindicato dos Trabalhadores de Ambulância de Emergência (STAE). Pedro Louro, vice-presidente do STAE, que assistiu à comissão, assegurou aos jornalistas que nos turnos da manhã estiveram inoperacionais duas ambulâncias (em Lisboa e Almada) e a mota de emergência de Lisboa. No Norte, as ambulâncias ficaram sem ser usadas enquanto os técnicos passam dos veículos para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). E houve "pessoal da logística a fazer turnos de 24 horas para assegurarem ambulâncias".
Mais de 400 técnicos em falta
Questionado sobre a falta de pessoal que obriga ao recurso ao trabalho suplementar, Paulo Campos respondeu que a situação se mantém há pelo menos uma década e que, "no passado, era bem pago e na altura ninguém pensou nisso". O responsável frisou que o mapa de pessoal para 2015 prevê a existência de 1642 trabalhadores e que só 1226 dos lugares estão ocupados (menos 416). Nos técnicos de ambulância, das 938 vagas existentes estão preenchidas 762.
Paulo Campos lembrou ainda que estão a decorrer concursos para mais 85 técnicos de ambulância e 70 para técnicos de comunicações, aguardando-se ainda a autorização de uma bolsa de recrutamento para mais cem profissionais.
Por seu lado, Pedro Louro admitiu que a redução do valor pago pelo trabalho suplementar "será uma motivação" para a greve, mas sublinhou que também está em causa o "atraso" na criação de uma carreira para os técnicos. "Com a entrada deste Conselho Diretivo, as negociações sofreram um retrocesso."