Farmácias e unidades de saúde sem capacidade para validar a sua execução. Utentes perdidos estão a optar por custear testes rápidos nas farmácias. Governo paga mais para aumentar resposta.
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As farmácias não têm capacidade para certificar os autotestes à covid-19 realizados pelos utentes, garantem as associações que representam o setor. São precisos recursos humanos e espaços dedicados para assegurar a supervisão e certificação dos autotestes e essa resposta nunca esteve prevista, alegam. Os hospitais também não estão a dispensar profissionais para essa tarefa, pelo que os utentes acabam por ficar impossibilitados de visitar os familiares internados ou têm de pagar testes do próprio bolso.
Apesar de as autoridades de saúde admitirem que os autotestes também são válidos para entrar em hospitais e lares, a alternativa não funciona para a maioria dos portugueses porque não há quem faça esta certificação. E, perante a corrida aos testes a que se assiste nas farmácias que fazem testes gratuitos, muitos utentes estão a recorrer a outras farmácias e laboratórios e a pagar entre 20 e 25 euros para visitarem os familiares.
"Para as farmácias não é exequível fazer a certificação de autotestes", assegurou Ema Paulino, presidente da Associação Nacional de Farmácias. A responsável explicou que são precisos espaços próprios - porque "os utentes não podem tirar a máscara e fazer os testes ao balcão" - e profissionais dedicados a essa tarefa, o que não é possível na atual situação. Manuela Pacheco, presidente da Associação de Farmácias de Portugal, realçou que as farmácias só estão autorizadas a dispensar autotestes e garantiu que nunca foram contactados para os certificarem.
A pressão sobre a testagem disparou nos últimos dias com as novas regras em vigor que determinam a apresentação de certificado de teste em várias situações. As farmácias que fazem testes comparticipados não têm mãos a medir e há dezenas de municípios sem resposta. Face às dificuldades, o Ministério da Saúde anunciou ontem que vai aumentar de 10 para 15 euros o preço pago por teste às farmácias, para que haja uma maior adesão ao regime de testes comparticipados.
hospitais não certificam
Segundo a Estratégia Nacional de testagem, atualizada na quarta-feira, as visitas nos hospitais e lares implicam a apresentação de um certificado de teste PCR negativo (feito nas últimas 72 horas) ou de um certificado de teste rápido de antigénio (48 horas). Este último pode ser realizado na modalidade de autoteste, desde que seja certificado por um profissional de saúde. Pode ainda ser apresentado um certificado de recuperação da doença covid-19 nos últimos 180 dias.
Sem as farmácias para a certificação dos autotestes, restam os centros de saúde, cuja resposta assistencial tem ficado aquém das necessidades, e os hospitais. O JN questionou uma dezena de unidades, de grande e média dimensão, sobre a possibilidade de destacarem profissionais para a supervisão dos autotestes, mas nenhum dos contactados está a fazê-lo.
O Hospital Pedro Hispano (Matosinhos) ponderou a possibilidade, mas concluiu não ter "as condições necessárias, quer em termos de profissionais disponíveis para essa tarefa, quer em termos de logística". Resposta idêntica foi dada pelo Hospital de Gaia, que alega que os profissionais fazem falta para a atividade assistencial. Perante as dúvidas dos utentes face às regras, vários hospitais estão a clarificar a informação.
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Há mais 40 concelhos em risco elevado
Há mais 40 concelhos em risco elevado e mais quatro em situação de risco extremo, segundo o relatório de ontem da Direção-Geral de Saúde (DGS). Em relação à semana passada, o número de concelhos com risco elevado e muito elevado aumentou de 154 para 194. Há duas semanas, eram 89. O boletim epidemiológico da DGS revelou ainda que são mais quatro os concelhos em risco extremo de infeção, totalizando 10 com mais de 960 casos de infeção por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias: Barrancos, Mira, Vimioso, Carregal do Sal, Monchique, Portimão, Serpa, Soure, Terras de Bouro e Vila Nova de Paiva. Há duas semanas, apenas Mora estava numa situação de risco extremo. Já em risco muito elevado estão 68 concelhos, mais 27 do que na semana passada e mais 49 do que há duas semanas. Por sua vez, são 110 os municípios apresentam uma taxa de incidência entre 240 e 479,9 casos por 100 mil habitantes, ou seja mais dois do que há uma semana e mais 40 do que há duas semanas. Com incidência entre 240 e 479,9 casos por 100 mil habitantes estavam 64 concelhos, menos 34 do que na semana passada. Vila do Porto é o único concelho com incidência de casos inferior a 20.