As camas ocupadas por doentes com alta clínica que não têm para onde ir subiram 8% e custam 290 milhões por ano.
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Entre 2024 e 2025, o número de camas de hospitais do SNS ocupadas com internamentos inapropriados (doentes com alta clínica que não têm para onde ir) aumentou 8%, atingindo o maior número de sempre: 2342 no dia 19 de março passado. Com uma população cada vez mais envelhecida e dependente, faltam respostas na rede de cuidados continuados e nos lares, mas falta também colocar o tema no centro da discussão política.
A 9.ª edição do Barómetro dos Internamentos Sociais, um estudo realizado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) em parceria com a EY Portugal, que vai ser apresentado hoje na Unidade Local de Saúde Amadora-Sintra, faz um retrato da situação nos hospitais do SNS (participaram 41 correspondendo a 96% das camas) a 19 de março deste ano. Naquele dia havia 2342 pessoas internadas no SNS sem motivo de saúde que esperavam em média há cinco meses por uma resposta social, da rede de cuidados continuados ou outra para saírem do hospital, um pouco menos do que no ano anterior, totalizando 367 487 dias de internamentos inapropriados.
12% das camas ocupadas
Apesar do tempo médio de internamento ter descido 10% face ao ano anterior, aqueles casos representavam, em março, 11,7% do total de camas dos hospitais públicos. Além dos problemas que colocam ao funcionamento dos hospitais, os custos destas camas ocupadas indevidamente ultrapassam os 288 milhões de euros por ano.
A despesa está subestimada porque olha apenas ao custo direto da cama ocupada, mas é suficiente para a reflexão lançada pelo presidente da APAH. “Não deveríamos usar este dinheiro para ajudar as pessoas a cuidar dos seus familiares?”, questiona Xavier Barreto, presidente da associação que dá voz ao tema há quase uma década. “Temos o número mais elevado de sempre de internamentos sociais”, alerta o responsável, realçando que os esforços feitos nos últimos anos não foram suficientes.
Sem direcionar ao atual Governo – “isto não se resolve em 11 meses, são políticas que levam muitos anos a construir” – Xavier Barreto faz um apelo para que o envelhecimento e as respostas do Estado aos utentes e cuidadores seja um tema central da campanha eleitoral. “Todos os anos se fala nisto e depois fica esquecido.Este debate tem estado completamente ausente”, critica.
Para o presidente da APAH, além do prometido reforço dos cuidados continuados, a resposta do Estado terá de passar por cuidados domiciliários sociais - equipas que vão a casa cozinhar e prestar cuidados de higiene diários, e pelo reforço do apoio aos cuidadores informais
Mais casos em Lisboa e Vale do Tejo e Norte
As regiões de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) e do Norte registam o maior número de internamentos inapropriados, representando 80% do total destes internamentos. Face ao ano passado, a taxa aumentou em LVT (de 36% para 40%) e baixou no Norte (47% para 40%). O Centro tem uma taxa de 13%, o Alentejo e o Algarve de 3% cada.
Há 21 hospitais a pagar vagas para casos sociais
O barómetro da APAH revela que, a nível nacional, há 21 hospitais que estão a pagar a institutições privadas e sociais 914 camas para utentes que não têm para onde ir. E há ainda 1050 doentes integrados no âmbito de uma portaria de 2023 que prevê o acolhimento temporário em lares e estruturas residenciais do setor social.
Faltam respostas nos lares e continuados
A falta de resposta da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados é o motivo de 38% dos internamentos sociais. Segue-se a demora na resposta das Estruturas Residenciais para Idosos (ERPI), que representa 29% dos internamentos sociais a nível nacional.
Perfil dos casos sociais dos hospitais
Afetam homens e mulheres de igual forma, mas são sobretudo doentes com mais de 65 anos (74%) dos serviços de Medicina Interna (50%).