Aumento da despesa hospitalar no ano passado foi o maior de sempre. Fatura disparou com novos fármacos, em especial oncológicos.
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A despesa com medicamentos nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) cresceu, no ano passado, 260 milhões de euros face a 2019. A fatura final em 2021 foi de 1558,7 milhões de euros, 20% superior à daquele ano pré-pandemia. Os fármacos inovadores, sobretudo na área da Oncologia, são os grandes responsáveis pelo aumento dos encargos.
O relatório de monitorização da despesa com medicamentos em meio hospitalar de dezembro do ano passado foi publicado recentemente pelo Infarmed e mostra a fatura acumulada de 2021, o ano com o maior aumento de despesa de sempre (15,8%).
Olhando para trás, a evolução anual dos encargos é crescente desde 2014, ano com a menor despesa desde que há registos. E olhando para a frente, a tendência é para piorar. O relatório de abril deste ano (último disponível) já evidencia um aumento de 9,7% da despesa (mais 50 milhões de euros) face ao mesmo período do ano passado.
Voltando a 2021, as áreas terapêuticas com maior aumento da despesa foram a Oncologia, a atrofia muscular espinal e o grupo composto pela artrite reumatoide, psoríase e doença inflamatória do intestino. Em causa estão os fármacos inovadores, muitos com custos exorbitantes.
Os medicamentos para tratamento do cancro custaram quase 500 milhões de euros, mais 12% do que no ano anterior. E já representam quase um terço da despesa total dos hospitais com medicamentos. Ainda dentro dos oncológicos, há duas classes de fármacos especialmente pesados: os imunomoduladores, que custaram 246 milhões de euros, e os citotóxicos que obrigaram os hospitais a despender 176 milhões de euros.
Fármaco órfão custou 17 milhões de euros
A área da atrofia muscular espinal, uma doença degenerativa que afeta sobretudo crianças, também se destaca entre as que sofreram maior aumento da despesa (89%), num total de 32 milhões de euros. Para tratar esta patologia rara há apenas medicamentos órfãos (que não estimulam a concorrência na indústria por terem um mercado pequeno), com preços muito elevados. Por exemplo, só um desses medicamentos (Onasemnogene Abeparvovec) foi responsável por mais de metade da despesa daquela área terapêutica, tendo custado aos cofres do SNS, em 2021, um total de 17,4 milhões, segundo o relatório do Infarmed.
A maior parte da despesa hospitalar com medicamentos destina-se ao tratamento de doentes que estão fora do hospital. Os fármacos dispensados em consulta externa, em hospital de dia e os produtos cedidos ao exterior representaram, no ano passado, 82% da despesa total (1,3 milhões de euros). O internamento, bloco operatório e Urgência respondem por apenas 14% dos encargos.
Maior hospital de Lisboa gastou o dobro do S. João
O Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (que integra os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente) gastou 201 milhões de euros em medicamentos no ano passado, quase o dobro da despesa do Centro Hospitalar e Universitário S. João (hospitais de S. João e Valongo), com dimensão equivalente. No ano passado, todos os hospitais do SNS aumentaram a fatura com fármacos. E o grupo dos cinco maiores centros hospitalares do país gerou 46% da despesa total com medicamentos.
Pormenores
Mais biossimilares
A quota de utilização de medicamentos biossimilares (idênticos mas menos dispendiosos que os biológicos) atingiu os 75,6% em 2021, um crescimento de 21,3 pontos percentuais.
Os mais usados
Cloreto de sódio, oxigénio e paracetamol são as substâncias ativas com maior utilização nos hospitais.