Desde dezembro que os conselhos de administração das unidades locais de saúde (ULS) da Guarda e Castelo Branco cessaram as respetivas comissões de serviço sem que a tutela tenha procedido à sua recondução ou substituição.
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As duas unidades servem uma população global de 244 mil utentes. Facto que já mereceu um comunicado da Ordem dos Médicos do Centro, em que apela à ministra o fim "deste inexplicável atraso de dez meses para fazer as nomeações". "Exige-se liderança das unidades de saúde quando os novos casos de covid-19 estão em franca progressão na Região Centro", diz Carlos Cortes.
Vieira Pires completou 70 anos em março e saiu da liderança da ULS de Castelo Branco, mas a colega Isabel Coelho mantém-se no lugar à espera que a ministra da Saúde cumpra o que disse em junho. No dia em que foi pública a demissão em bloco da Comissão Covid na Guarda, Marta Temido disse que a Administração da ULS da Guarda seria substituída a curto prazo. Quatro meses depois a mudança ainda não aconteceu. O gabinete de Marta Temido limita-se a dizer que as "nomeações estão em curso de acordo com a lei".
Divergências internas
Ao médico que governava a saúde no distrito de Castelo Branco sucedeu a então diretora clínica Eugénia André, que assumiu o lugar em regime de substituição. Mantém na equipa o enfermeiro- diretor e o professor José Nunes, indicado como vogal pela Comunidade Intermunicipal (CIM). A vogal-executiva Catarina Azimendi abandonou funções quando, no final de junho, foi nomeada presidente da ULS do Litoral Alentejano. Passaram meses desde que esta equipa, agora constituída apenas por três elementos, gere o Hospital Amato Lusitano e os centros de saúde do distrito.
Soube o JN que em causa estarão propostas diferentes no seio do próprio Partido Socialista. A presidente em funções será da afeição da deputada Hortense Martins, que apoiava o candidato derrotado nas últimas eleições distritais do PS, e o atual presidente do partido Vítor Pereira estará a trabalhar para ver indigitada a cirurgiã da instituição Aida Paulino.
"Negas" difíceis de gerir
Na Guarda, a equipa estará fechada depois de muitas dificuldades para encontrar um novo diretor clínico. Vários médicos rejeitaram o convite e, na ausência de alternativas, a atual dirigente Fátima Cabral, dermatologista de formação, deverá ser reconduzida na direção clínica, tal como a enfermeira-diretora Nélia Faria, numa equipa liderada por João Barranca, quadro da Administração Central dos Serviços de Saúde.
No lugar de vogal-executivo tudo indica que fica António Monteirinho, dirigente do PS do concelho da Guarda, o médico José Serra, que deixa o centro de saúde do Sabugal para gerir os cuidados de saúde primários, e José Monteiro, que voltou a ser indicado como vogal pela CIM das Beiras e Serra da Estrela.
Segurança Social sem Direção
Desde que Jacinto Dias cessou a comissão de serviço em dezembro e assegurou funções até março deste ano, em regime de substituição, que o centro distrital de Segurança Social da Guarda está sem Direção. A lei admite que, na falta do diretor, alguém do quadro assuma o lugar em suplência. Mas nem sequer está definido um prazo, tal a excecionalidade do regime. A funcionária mais antiga e graduada gere os serviços, sem que o Governo tenha aberto até hoje um concurso para proceder à substituição efetiva do anterior titular. É caso único em Portugal. Em Vila Real, onde o diretor também cessou idênticas funções em dezembro de 2019, foram desencadeados os procedimentos legais para nomear um sucessor em regime de substituição. Instada a explicar a falha, a ministra do Trabalho e Segurança Social ficou em silêncio. Ana Mendes Godinho foi a primeira deputada do PS eleita pelo círculo da Guarda em outubro de 2019. Foi ainda a responsável pela instalação na Guarda da Secretaria de Estado da Ação Social.
Pormenores
Guarda
Unidade de segunda linha para a covid-19 na Região Centro, o hospital da Guarda tem nesta fase 35 internados numa zona que assinala mais de 400 casos ativos. Pinhel entre 34 concelhos com novos casos acima da média nacional.
Castelo Branco
Em Castelo Branco, a primeira fase da pandemia foi quase isenta de casos, mas atualmente o distrito contabiliza mais de uma centena de infetados. Especial incidência nos lares da Misericórdia de Idanha-a-Nova e Belmonte.