No S. João, doentes com sintomas respiratórios fazem o "multiplex" antes de serem internados. Gaia está a comprar e conta fazer até 480/dia.
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Já há hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) a testar doentes para a covid-19 e outros vírus respiratórios, como o da gripe, em simultâneo. Com a mesma zaragatoa, os médicos tiram mais do que uma dúvida. Ganha-se tempo e os resultados ajudam na tomada de decisões quando o doente vai ser internado. No Hospital de S. João, os "multiplex" já são uma realidade. No Centro Hospitalar de Gaia/Espinho estão a ser adquiridos e o objetivo é que este novo "formato" passe a representar 35% a 40% dos testes diários à covid-19. Também no privado, a procura destes testes está a crescer.
"Neste momento, no Serviço de Urgência já estamos a fazer [os "multiplex"] aos doentes respiratórios que vão ser internados", referiu, ao JN, Tiago Guimarães, diretor do Serviço de Patologia Clínica do S. João. Apesar da atividade gripal ainda ser esporádica, basta arrefecer ou chover mais para aumentarem os doentes na Urgência com problemas respiratórios. A ideia é quando surgir a coincidência de vírus, com sintomas muito parecidos, "poder discriminar o SARS-CoV-2 de outros vírus como o Influenza A e B ou o Vírus Sincicial Respiratório nas crianças pequenas", acrescentou.
Atualmente, há duas abordagens possíveis: os testes "multiplex" que permitem detetar ao mesmo tempo vários vírus respiratórios, além do SARS-CoV-2; e a soma de dois testes (SARS-CoV-2 e Influenza A e B) também a partir da mesma zaragatoa. Esta última técnica já é usada em vários hospitais, até porque a Direção-Geral da Saúde (DGS) recomenda este duplo despiste para doentes a internar. Refira-se que a estratégia nacional de testes, atualizada este mês pela DGS, determina, para além do rastreio à covid-19, que todos os doentes com critério de internamento testem ao vírus da gripe A e B e, as crianças menores de dois anos, ao vírus sincicial respiratório.
privado já vendeu meio milhar
"Em termos de saúde pública não há grande interesse em saber se é gripe ou covid, mas para o doente respiratório que vai ser internado é importante e para os que já estão no hospital também", realça Tiago Guimarães. É mais uma "arma de diagnóstico" para ajudar a tomar decisões e que, por ora, permite constatar que "ainda não há gripe".
O hospital de Gaia iniciou o processo de aquisição dos novos testes há cerca de um mês, por iniciativa própria, e aguarda a entrega. Entretanto, já dispõe de "testes em separado para os vírus da gripe". Assim que a encomenda chegar, a ideia é ir substituindo os testes convencionais à covid-19. "Temos uma capacidade diária de 1200 testes e pretendemos, com esta aquisição, realizar entre 35% a 40% dos testes neste "formato"", refere o hospital em resposta ao JN.
Os "multiplex" também estão disponíveis no setor privado e a procura está a aumentar. O grupo Unilabs, que disponibiliza estes testes desde 14 de outubro, vendeu cerca de 480 em três semanas a hospitais e consultórios privados, disse António Maia Gonçalves, diretor médico da Unilabs. "Podem ser muito relevantes clinicamente. Por exemplo num consultório pediátrico, saber que uma criança tem outro vírus que não covid, dá tranquilidade e evita stress acrescido", nota. Esperando o aumento da procura, o grupo está a preparar-se para "ter mais capacidade de resposta", disse.
Outros testes para a covid-19 em uso
Testes moleculares
São o método de referência para o diagnóstico e rastreio do vírus da covid-19. Os testes RT-PCR convencional fazem-se com zaragatoa e dão resultados em 24 horas.
Testes antigénio
Particularmente úteis em contexto de surtos, estes testes rápidos têm a vantagem de apresentar resultados em 15-30 minutos. O método de colheita é a zaragatoa nasofaríngea.
Testes serológicos
Avaliam a resposta imunológica à infeção e servem de base a estudos para aferir a imunidade de grupo. Estes testes ao sangue não estão recomendados para diagnóstico da covid-19.