Os beneficiários dos seguros de saúde deverão sentir um aumento no preço das apólices no próximo ano.
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Os custos com a Saúde, desde as matérias-primas aos recursos humanos, dispararam nos últimos meses e os hospitais privados estão a pressionar as seguradoras a pagarem mais pelos atos praticados. Tudo o que envolve internamento poderá sofrer um aumento mais expressivo.
Nos últimos dias têm decorrido reuniões entre alguns dos maiores hospitais privados e as seguradoras para preparar o ano de 2022 e o tema do aumento dos custos com a Saúde tem estado em destaque.
O setor privado empregava 125 mil profissionais de saúde em 2019, quase tantos como o Serviço Nacional de Saúde (135 mil no mesmo período) segundo um estudo do Conselho Estratégico Nacional de Saúde da CIP.
"Parece-me inevitável que haja uma repercussão destes custos nos valores a cobrar às seguradoras", referiu, ao JN, o presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), adiantando que os atos que envolvem internamento deverão ter aumentos maiores. Quase inevitável é que, depois, as seguradoras reflitam tal aumento no prémio dos seguros. Óscar Gaspar espera que a ADSE e outros subsistemas de saúde tenham "consciência da situação do mercado" e atuem em conformidade. No caso da ADSE, a iniciativa de revisão da tabela de preços cabe ao subsistema de saúde dos funcionários públicos.
Energia e Recursos Humanos
Mas, afinal, o que está a pesar nas contas dos hospitais? Os custos com a energia são uma das despesas que mais subiu nos últimos tempos e a perspetiva para o próximo ano não é animadora - fala-se em aumentos na ordem dos 30%, o que tem um impacto significativo em unidades onde a necessidade de climatização 24 horas por dia, bem como o funcionamento de maquinaria pesada, consomem muita energia. Os serviços contratados externamente, como a limpeza, lavandaria, segurança e alimentação "tiveram aumentos na ordem dos 10% nos últimos meses", adianta Óscar Gaspar. Por último, mas tão ou mais relevante que os pontos anteriores, é o aumento dos custos com pessoal. "Há uma enorme escassez de recursos humanos, desde administrativos a profissionais de saúde e o impacto desta escassez é o aumento dos custos", salienta o presidente da APHP.
O Estado gastou 400 milhões de euros em horas extra e contratos de prestação de serviço no SNS até setembro deste ano. Os enfermeiros realizaram mais de 5 milhões de horas extras e os médicos superaram os 4 milhões.
Numa altura em que há um "significativo aumento das necessidades em Saúde", após um período em que a pandemia levou ao adiamento de consultas, exames e cirurgias, os hospitais privados estão com dificuldade em contratar médicos e enfermeiros. E aqueles que conseguem custam mais caro.
Óscar Gaspar adianta que, no último ano e meio, têm existido muitas oscilações de disponibilidade de médicos e enfermeiros, o que poderá estar relacionado com uma maior dedicação destes recursos ao Serviço Nacional de Saúde, mas também com a exaustão provocada pela pandemia. "Quando a Administração Central do Sistema de Saúde reconhece que pagou mais 400 milhões de euros em horas extra, estas são horas que porventura seriam feitas no privado", exemplifica. Os programas de recuperação de atividade, feitos no SNS em horário extraordinário, também retiram disponibilidade para o privado.
"Barómetro" vai analisar aumento dos custos
A Associação Portuguesa de Hospitalização Privada assinou um protocolo com a Universidade Católica para a realização de um estudo anual sobre os custos nos hospitais. Deverá estar pronto em fevereiro e será uma espécie de "barómetro" feito com base nas contas das unidades de saúde privadas, mas que permitirá um olhar mais sustentado sobre o agravamento das despesas no setor. "O que temos é evidência empírica e o que queremos é ter uma análise mais fundamentada e generalizada" referiu Óscar Gaspar.