Administradores hospitalares têm "necessidade" de médicos para áreas específicas, mas só contratam profissionais certificados. Medida do Governo afastada por unidades.
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Os hospitais não tencionam contratar médicos estrangeiros que ainda não têm os cursos completamente reconhecidos, uma possibilidade criada, este mês, pelo Governo. Em causa poderá estar a preocupação com o reconhecimento da qualidade.
Para tentar reforçar os meios humanos no combate à covid, o Governo permite a contratação, por um ano, de médicos com curso tirado no estrangeiro que ainda não têm o processo de reconhecimento completo. Mas a medida não tem recetividade junto dos hospitais.
O Centro Hospitalar de Lisboa Central diz que "não estão previstas contratações de médicos e enfermeiros estrangeiros". A resposta do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental vai no mesmo sentido: "Não contratamos médicos estrangeiros" sem curso reconhecido.
O cenário é similar no Norte e no Centro. "Não temos, de momento, necessidade de recorrer a novas contratações de médicos", explicou o Centro Hospitalar do Porto. "De momento, não possuímos nenhum profissional nestas condições que nos tenha contactado ou que possamos contactar", adianta, por sua vez, o Centro Hospitalar de São João.
O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) argumenta que tem "procurado responder aos desafios com os recursos internos" e adianta que "não está planeado" contratar clínicos naquela situação, ainda que tenha recebido "algumas candidaturas espontâneas". O Centro Hospitalar do Baixo Vouga, em Aveiro, também não prevê admiti-los. "Até à presente data, não foi perspetivada essa contratação", respondeu. O JN contactou outros hospitais do país, mas não obteve resposta.
Ordem espera respostas
Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, adiantou que existe "necessidade de profissionais" para áreas específicas nos hospitais. "Contudo, estamos obrigados, e bem, a contratar profissionais certificados como garantia de qualidade", especifica.
Já a Ordem dos Médicos (OM) enviou ao Ministério da Saúde "algumas questões relacionadas com o diploma dos médicos estrangeiros" e "aguarda resposta para pronúncia final".
Há cerca de 800 médicos com cursos tirados no estrangeiro em processo de certificação, mas só 160 profissionais cumprem os critérios para poderem ser contratados (terem passado na prova escrita de conhecimento). Desses, cerca de uma centena estão no Brasil e não pensam vir para Portugal. Dos que estão no país, a maioria é luso-venezuelana.
Na semana passada, 35 deputados do PS entregaram um requerimento dirigido à OM sobre processos "pendentes" de reconhecimento de profissionais de saúde estrangeiros, num momento de "emergência sanitária" no país. Na secção regional do Centro da OM, não dão entrada pedidos de inscrição de médicos luso-venezuelanos desde janeiro de 2019. Entraram, naquele período, 12 pedidos (11 do Brasil e um de Moçambique) e todos foram inscritos. As secções do Norte e Sul não responderam ao JN.