As consultas de nutrição e de psicologia realizadas nos hospitais vão ser valorizadas financeiramente nos contratos-programa que estão a ser negociados para 2024 entre as instituições e a direção-executiva do SNS. A ideia é incentivar os hospitais a apostarem nestas áreas, contratando mais profissionais e, assim, melhorar o acesso dos utentes às consultas, cujos tempos de espera são em muitos casos "impraticáveis".
Corpo do artigo
Atualmente, só as consultas médicas são valorizadas nos contratos-programa. O hospital recebe um incentivo pela sua realização para estimular o aumento da produção. O que se pretende é alargar o conceito às consultas de psicologia e de nutrição para encorajar as administrações a apostarem nestas áreas, que podem ajudar o SNS a prevenir a doença e a poupar dinheiro em medicamentos, explicou Fernando Araújo, diretor-executivo do SNS.
Outro passo para melhorar o acesso dos utentes foi dado ontem com a definição das linhas orientadoras para a construção dos serviços de nutrição e psicologia nas 12 unidades locais de saúde (ULS), que estão a ser implementadas.
O modelo de gestão das ULS - que integra cuidados primários, hospitalares e continuados - permite ter serviços com autonomia para contratar e com menos burocracia. Recorde-se que os últimos concursos nacionais para recrutar 40 psicólogos e 40 nutricionistas para os centros de saúde demoraram quase cinco anos.
Globalmente, as carências são enormes e os doentes esperam "muitos meses por uma primeira consulta e muitos meses por uma segunda consulta, o que é impraticável", destacou o bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Para Francisco Miranda Rodrigues, os passos dados no sentido da simplificação das contratações, da valorização das consultas e da autonomia dos serviços vão dar frutos em breve. "É expectável um crescimento de recursos já este ano para que no próximo ano se comecem a ver resultados", disse.
Mais perto e mais rápido
Os serviços de nutrição e de psicologia a criar vão basear-se nos que já existem nas ULS, mas serão adaptados às necessidades das populações que servem, envolvendo os profissionais que já estão nos centros de saúde e hospitais, realçou Alexandra Bento, bastonária dos Nutricionistas.
Com a mão no terreno há vários anos, Graça Ferro, diretora do Serviço de Nutrição da ULS do Alto Minho explicou as vantagens do modelo. O serviço que dirige cresceu de sete para 16 nutricionistas, que dão resposta a 12 centros de saúde, dois hospitais e duas unidades de convalescença. Ali, o doente normal espera no máximo 60 dias por uma consulta no hospital e o prioritário 15 dias, com a vantagem de poder fazer a consulta no centro de saúde, mais perto de casa.
O que são as ULS
As unidades locais de saúde (ULS) são um modelo de gestão que integra cuidados primários, hospitalares e continuados, permitindo ao doente circular de forma célere e articulada entre os diferentes níveis.
Nova vaga em abril
Entre 1999 e 2012 foram criadas oito ULS. Atualmente há 12 em diferentes fases de implementação e "em abril haverá uma nova vaga" para alargar o modelo a todo o território, adiantou o diretor-executivo do SNS. Para Fernando Araújo, esta é "uma das reformas mais relevantes" dos cuidados integrados.
Acesso e mobilidade
"A reorganização dos serviços vai facilitar o acesso [a consultas de psicologia e nutrição], que nos CSP não existe, e a mobilidade do utente dentro da organização", destacou Fátima Fonseca, da direção-executiva do SNS.
197 mil consultas de nutrição e 313 mil consultas de psicologia foram realizadas em 2022 no SNS, segundo dados do Portal da Transparência.