Uma das unidades do Serviço de Medicina Intensiva do maior hospital do Norte está a ser renovada e já recebeu os primeiros doentes covid e não covid. Os novos quartos com pressão negativa ou positiva reduzem o risco de infeção para doentes e profissionais de saúde.
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O piso 6 do serviço de Medicina Intensiva do Hospital de S. João, no Porto, está a ser alvo de uma intervenção profunda. Parte das novas instalações está pronta e recebeu, esta manhã de sexta-feira, os primeiros doentes.
A unidade tem dois módulos, uma com oito camas, que está atualmente com doentes covid-19, e outra com dez camas. Das oito novas camas, seis são em quartos de isolamento pressurizados que permitem reduzir o risco de aquisição e transmissão de infeção.
A pressão negativa faz com que a infeção de determinado doente não passe para o exterior do quarto - importante, por exemplo, para proteger os profissionais da covid-19, mas também de outras infeções como a tuberculose -, enquanto a pressão positiva evita que os vírus e bactérias entrem no quarto, fundamental para doentes imunodeprimidos que estão em cuidados intensivos.
"Dá-nos maior segurança para doentes e profissionais", referiu José Artur Paiva, diretor do Serviço de Medicina Intensiva, notando que a unidade passa de um para seis quartos de isolamento.
A obra ainda não está concluída, faltando reabilitar a área clínica já existente do piso 6. Quando estiver terminada, "dentro de cerca de três meses", a unidade terá um total de 30 camas no mesmo piso, o que representa um aumento global de oito camas.
É um investimento de cerca de 6,2 milhões de euros, dos quais cerca de 3,5 milhões são financiados no âmbito do projeto de capacitação da Medicina Intensiva aprovado a nível nacional. Os restantes quase 3 milhões de euros são para equipamento e são suportados pelo hospital, adiantou José Artur Paiva.
O serviço de Medicina Intensiva do S. João conta mais duas unidades funcionais. No piso 1 permanecerá a unidade dedicada ao doente traumatizado e no piso 8 mantém-se a do doente neurocritico (vítimas de AVC e traumatismos cerebrais).
No final da intervenção, o Serviço de Medicina Intensiva terá 68 camas, todas com capacidade de nível máximo de cuidados. Refira-se que o S. João é um dos dois hospitais do país com mais camas de Medicina Intensiva, a par do Centro Hospitalar Lisboa Central.
Faltam recursos humanos
Antes da pandemia de covid-19, Portugal era um dos países com menor rácio de camas de Medicina Intensiva da Europa, concretamente 6,2 camas por 100 mil habitantes, quando a média era de 9,5 por 100 mil.
Atualmente, o país tem 8,7 camas por 100 mil habitantes, não atingiu a média europeia, mas ainda há obras em curso, adiantou José Artur Paiva, que é também co-coordenador da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva.
Porém, não basta abrir camas. São precisos mais profissionais, nomeadamente médicos, enfermeiros e assistentes operacionais, e é aqui que o país não está tão bem. "A nível nacional não houve uma capacitação de recursos humanos proporcional ao aumento de camas", sublinhou o intensivista, alertando que tal desequilíbrio pode levar ao risco de haver camas instaladas, mas desativadas por falta de pessoal.
José Artur Paiva sublinha que a carência mais significativa é de enfermeiros com experiência em cuidados intensivos.