Depois de um ano de 2020 para esquecer e de um início de 2021 com poucas razões para sorrir, os hotéis de Lisboa e do Porto começam a reerguer-se. A pandemia retirou-lhes hóspedes, arrasou-lhes as receitas e a muitos obrigou a encerrarem temporariamente a atividade durante os períodos de confinamento obrigatório. Agora, com o verão a aproximar-se, o setor volta a demonstrar sinais de dinamismo.
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Lisboa e Porto sofreram com a queda acentuada do turismo durante o período pandémico. Aos poucos, vão renovando estratégias que lhes devolvam o carimbo de destinos de excelência. O fluxo turístico promete ganhar fôlego no próximo verão. E há novos hotéis que acompanham a tendência.
Reflexo disso mesmo é a perspetiva de novas aberturas previstas nas grandes cidades, onde o turismo ganhara asas antes da pandemia de covid-19. A plataforma internacional TOPHOTELPROJECTS, que reúne dados oficiais sobre a atividade do setor, avançou que Portugal vai contar com 42 novos hotéis até ao final de 2021, o que corresponde a 7079 quartos adicionais para oferta ao público. Deste total, 14 situam-se na região de Lisboa e oito na do Porto.
"Há fortes indicadores de que o turismo no Porto irá crescer. Cerca de 75% da oferta hoteleira tem portas abertas e conta com taxas de ocupação acima dos 90%", assinala Luís Pedro Martins , presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal. Em Lisboa, segundo apurou o JN, os números rondam a mesma ordem de percentagem.
Dos 42 hotéis perspetivados, quase todos são acima de quatro estrelas, o que significa uma aposta clara num segmento de luxo. E há também exemplos de hotéis que fogem ao convencional e trazem consigo traços de inédita modernidade, como o Yotel, inaugurado no final de maio na Rua de Gonçalo Cristóvão, no Porto. Com 150 quartos, o Yotel não tem funcionários, com o serviço a ser disponibilizado através de robôs que executam todas as tarefas requeridas pelos hóspedes.
Protocolos sanitários e buffets assistidos
Todos estes motivos de otimismo não apagam da memória, porém, o período em que os hotéis foram forçados a encerrar por questões sanitárias relacionadas com o confinamento. Um dos muitos exemplos disso mesmo foram os hotéis Solverde, que se mantiveram fechados durante seis meses e reabriram em maio último. "Aproveitámos este período para algumas obras de manutenção mais profundas e para adaptar a nossa oferta às novas necessidades do mercado e às recomendações da Direção-Geral da Saúde, certificando todas as nossas unidades com o selo Clean & Safe, do Turismo de Portugal", descreve Albano Rosa, diretor de Operações do Grupo Solverde, com espaços em Gaia, Espinho e Chaves.
Simultaneamente, foram levadas a cabo mudanças nos procedimentos habituais de funcionamento dos hotéis do grupo, idênticas às adotadas por outras unidades. "As principais prenderam-se com a alteração dos procedimentos, que implicou a permanente alteração dos horários de serviço, de modo a implementar todas as medidas de segurança e higiene recomendadas", assinala o responsável. Os protocolos sanitários foram reforçados e até a oferta gastronómica sofreu mudança, através de buffets assistidos.
Agora, é tempo de esperar que o mercado comece a funcionar e conquiste novos hóspedes ou faça regressar aqueles que deixaram de gozar férias devido aos constrangimentos de mobilidade provocados pela pandemia.
Estamos confiantes com os resultados deste verão. Esperamos uma forte procura do mercado interno alargado
"Estamos confiantes com os resultados deste verão. Esperamos uma forte procura do mercado interno alargado", diz Albano Rosa. Que deixa um alerta: "As reservas são muito voláteis. Continuam a registar-se muitos cancelamentos e reservas de última hora."
O setor do Alojamento Local (AL) também começa a dar mostras de alguma vitalidade e lentamente vai regressando aos números do passado.
A pandemia obrigou a grande maioria dos empresários a suspender a atividade. Uns optaram por reconverter as suas unidades em habitações disponíveis para arrendamento, outros simplesmente interromperam temporariamente a fonte de trabalho e rendimento, o que, no entanto, não se refletiu num decréscimo do número de licenciamentos. "Simplesmente, a opção mais simples foi a de manter as licenças ativas, pois suspendê-las para depois as requerer novamente seria um processo que envolveria custos elevados", explica Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP).
O setor, segundo revela Eduardo Miranda, sofreu "quebras na ordem dos 70%", com os principais centros urbanos, leia-se Lisboa e Porto, a terem números ainda superiores no que diz respeito a prejuízos, "na ordem dos 85%."
O essencial é controlar os indicadores sanitários durante os meses de julho e agosto
Mau grado a recente decisão do Reino Unido de retirar Portugal da lista segura de destinos, "que motivou muitos e inesperados cancelamentos", o fluxo de reservas em casas de AL deixa antever um verão animador.
"Estamos a assistir a um breve início da retoma. Apenas uma pequena gota de água, mas muito importante para poder criar algum ânimo aos empresários", refere Eduardo Miranda. Para o responsável, "os AL são fundamentais para o turismo em Portugal, sobretudo porque têm uma grande facilidade em reiniciar a atividade, dado possuírem estruturas mais leves do que as unidades hoteleiras tradicionais."
No entanto, ainda é cedo para poder cantar vitória e o melhor é mesmo esperar que a covid dê tréguas e permita retomar a vida normal o mais breve possível. "O essencial é controlar os indicadores sanitários durante os meses de julho e agosto para que os números da pandemia continuem a decrescer e seja alcançada a imunidade de grupo. Só depois se poderá voltar a pensar em regressar aos números anteriores a 2020", acredita Eduardo Miranda.
Mais um dado a acrescentar à lista que faz acreditar que o turismo está a devolver razões para que a oferta de alojamento ganhe alento significativo a curtíssimo prazo. O verão dará todas as respostas nesse sentido.