Idadismo é a terceira forma de discriminação que causa mais vítimas em Portugal
O preconceito contra a terceira idade, o idadismo, está entre as três discriminações mais comuns em Portugal. José Carreira, da Associação Stop Idadismo, propõe uma campanha nacional e a formação da sociedade no combate à “despersonalização e infantilização do idoso”.
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“A idade é uma das primeiras coisas que percebemos nas outras pessoas” é a frase introdutória do relatório mundial sobre idadismo da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2022. O idadismo é o preconceito que surge quando baseado na idade e atualmente é a terceira maior forma de discriminação em Portugal.
Por cada 100 jovens portugueses, existem 182 idosos, dados que tornam Portugal o 4º país a nível mundial com a população a envelhecer mais rapidamente, como consta no manifesto da Associação Stop Idadismo.
As formas de discriminação com pessoas da terceira idade surgem, em grande parte, a nível profissional, onde se registam vários exemplos, quer seja em fase de candidatura para um trabalho, quer seja na possibilidade de permanecer na profissão. Na função pública, são obrigadas a reformar-se aos 70 anos, acima dos 50 anos a probabilidade de contratação diminui e, em caso de reestruturações, as pessoas mais velhas são as mais prováveis de serem dispensadas.
Este é um preconceito que começa a manifestar-se desde os três anos de idade, aponta José Carreira. É nessa linha que o fundador da associação Stop Idadismo apresenta como fundamental a implementação de formação, com o efeito de mudar mentalidades, destacando ainda as áreas da comunicação social e saúde como potenciadoras do idadismo.
A “despersonalização e infantilização do idoso” diminui o caráter e dignidade do indivíduo em questão e são comportamentos que deixam alguém a um passo mais próximo da violência contra idosos. “Muitas vezes a pessoa não é tratada como um ser humano e alguém passa a decidir por ela, porque decide que a pessoa já não tem capacidade de decisão”, aponta José Carreira em declarações ao JN.
“Portugal tem muitas pessoas pobres e a pobreza na velhice é ainda mais dura. Se estivermos a falar de alguém que seja uma mulher mais velha, pobre e com demência, aí o risco desta pessoa ser excluída e ser absolutamente colocada à margem da sociedade é gigantesco”, acrescentou.
Auto exclusão
A auto exclusão acaba por se tornar comum, estando o idadismo muito enraizado na sociedade. Por todas as razões anteriormente mencionadas, surge o Plano de Ação para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2023-2026, publicado pelo Governo português.
A Stop Idadismo reconhece a publicação deste plano como muito satisfatória, tendo também um manifesto com várias propostas para combater o preconceito contra a idade. Fazem parte desse manifesto a criação de um observatório do idadismo, para que via academia se possa estudar o fenómeno e conhecê-lo em profundidade, uma revisão do plano de ação e respetiva atualização, a introdução de igualdade de oportunidade para todas as idades nos planos municipais, e a inclusão do fator idade na constituição, para prevenir a exclusão.
Mas a ação de intervenção que apresentam como sendo a mais prioritária é a campanha nacional de combate ao idadismo, que alerte as pessoas para os sintomas desta vitimização e que previna situações futuras de discriminação na terceira idade de acontecer.
José Carreira aponta ainda a falta de priorização a nível político e que os progressos e respostas não são feitos de forma holística. Neste último ponto, acredita que ainda existe uma visão muito direcionada “no âmbito da saúde, mas deve ter outras componentes”, como as perspectivas sociais e de mercado.
Com as eleições legislativas de 10 de março a aproximarem-se, José Carreira sente que é preciso deixar a mensagem aos políticos de que é urgente fazer mais. Apesar de para si ser evidente que existe uma preocupação mais acentuada nuns partidos do que noutros, afirma que a palavra idadismo não está em nenhum dos programas e que falta reconhecimento.
Critica ainda a ausência do tema nos debates, à exceção das pensões.
“A partir do dia 11 de março, certamente não nos iremos calar e vamos chamar à atenção para a prioridade que deve ser o combate ao estereótipo, ao estigma e ao preconceito em relação, essencialmente, às pessoas mais velhas”, disse.