Banco Alimentar celebra 30 anos e já distribuiu mais de 450 mil toneladas de produtos. Hoje tem 42 mil voluntários em todo o país, quando, na primeira campanha, contou apenas com 25.
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Os números não mentem e dão corpo a um dos maiores movimentos da sociedade civil portuguesa, criado no pós-guerra. Desde que, há 30 anos, neste dia, foi formalmente constituído o Banco Alimentar contra a Fome de Lisboa, o primeiro dos 21 que agora se contam em Portugal, foram angariadas 465 695 toneladas de produtos, uma média superior a 40 toneladas diárias.
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Hoje, mobiliza 42 mil voluntários unidos no objetivo comum de apoiar, através das 2630 instituições, um universo de 450 mil pessoas. Em 2020, juntaram-se mais de 65 mil trazidas pelos efeitos devastadores da pandemia. Contas finais, são mais de meio milhão de apoiados.
O Banco Alimentar sopra as velas no momento mais desafiador da história, em que voltou a dar prova da capacidade interventiva e mobilizadora. Logo em março, em resposta à crise sanitária e antevendo a crise financeira, lançou a Rede de Emergência Alimentar de forma a angariar mais donativos para adquirir os produtos que não puderam ser recolhidos nas campanhas.
Os pedidos de ajuda continuam a aumentar. A pressão é grande e será ainda maior com este novo confinamento geral, antevê Isabel Jonet, a presidente da Federação dos Bancos Alimentares, que há 27 anos assumiu uma missão de vida. "Este é o período mais difícil para todos: aliado ao desemprego, há medo de uma doença que não se conhece bem. E não há nada pior do que isso, porque o medo tira-nos até a capacidade de reação."
Reação não tem faltado ao Banco nestas três décadas, defende João Alberto Pinto Basto, um dos voluntários fundadores, que integrou o grupo de trabalho que implementou em Portugal um conceito inovador à época descoberto em Paris: um banco de alimentos para "matar a fome que muitos passavam", que seria presidido pelo seu cunhado, José Vaz Pinto, até 2003: "Lembro-me de ele dizer que o banco tinha que ser como a água: insípido, incolor, inodoro, isento e sem cedências ao poder ou ambições de poder e contrário a aproveitamentos políticos, pessoais, ou confessionais. E isso tem sido seguido".
Um novo voluntariado
Pinto Basto lembra-se bem daquela primeira campanha, no verão de 1992, que conseguiu apoiar, através de 45 instituições, cerca de 12 mil pessoas. Movimentou, então, 250 voluntários. Hoje, nas campanhas anuais são 42 mil. Diariamente, nos 21 bancos, estão "650 voluntários assíduos".
Foi um dos méritos deste movimento "mudar a perceção do voluntariado em Portugal", outrora com conotações religiosas, praticado por "senhoras boazinhas" que visitavam doentes nos hospitais e reclusos nas prisões, sublinha Isabel Jonet: "Trouxe o voluntariado jovem que era muito residual ou não existia e envolveu-os na participação cívica e cidadã".
"Ninguém poderia imaginar no que o Banco se tornou", refere Pinto Basto, que hoje, mesmo com "quase 90 anos", não só preside à Mesa da Assembleia-Geral, como faz parte do grupo de cerca de 80 voluntários que visitam regularmente as instituições. "É uma das coisas que, ainda hoje, me dá mais prazer fazer", confessa o antigo presidente da Vista Alegre, ligado ao Banco há 32 ininterruptos anos: "O que, sobretudo, anima os voluntários é o seu espírito, a atitude de serviço, de dar o seu tempo, trabalho e alguma alegria a quem passa fome. Isso tem sido enriquecedor, e levado a reconhecer que qualquer outro é meu irmão. Se tenho dado alguma coisa, tenho recebido muito mais do que aquilo que tenho dado".
Números
30 mil toneladas de alimentos angariadas em 2019, 80% dos quais destinados ao desperdício. No ano passado, ainda sem números finais, estimam-se que tenham sido, pelo menos, 28 mil.
76,5 mil toneladas de alimentos obtidos, entre 1992 e 2019, nas campanhas de recolha que se realizam duas vezes por ano nos supermercados de todo o país.
3295 toneladas de produtos angariados na melhor campanha da história, em dezembro de 2011. As campanhas de final do ano são sempre mais "lucrativas" do que as realizadas em maio.
12,3 milhões de refeições servidas em 2019 só pelo banco de Lisboa. Foram preparadas com as mais de sete toneladas de alimentos angariadas. Apoiou 375 instituições e cerca de 55 mil pessoas.