O ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, anunciou, esta sexta-feira, que foi encontrado um novo tipo de serotipo de língua azul. Foi identificado numa exploração com 48 bovinos e "foi já aprovada a vacinação", acrescentou.
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“Não podemos fazer futurologia e dizer se se vai expandir ou não e em que condições”.O ministro fez esta revelação durante uma audição na comissão parlamentar de Agricultura, na Assembleia da República. "Ontem foi detetado pela primeira vez numa exploração de bovinos um animal positivo com serotipo 8", disse José Manuel Fernandes. A febre catarral ovina, conhecida como azul, é uma doença viral, não transmissível a humanos, que infetou milhares de animais nos últimos dois meses, tendo causado a morte de muitas cabeças de gado.
Em Portugal estavam a circular três serotipos de língua azul, nomeadamente o BTV-4, que surgiu, pela primeira vez em 2004 e foi novamente detetado em 2013 e 2023, o BTV-1, identificado em 2007, com surtos até 2021, e o BTV-3, detetado, pela primeira vez, em 13 de setembro. Agora, segundo o ministro, foi detetado um serotipo 8, numa exploração que não identificou. "Foi definida a zona de restrição, a determinação de vacina voluntária, que tem autorização comercial", disse José Manuel Fernandes. Segundo o ministro, a Direção Geral de Agricultura e Veterinária (DGAVE) está a "ver a disponibilidade" da vacina. Foram “já feitas as notificações às instâncias europeias", acrescentou.
“Só há um laboratório disponível” e “outros estados-membros estão a ter dificuldades em obter vacinas para este serotipo”, admitiu José Manuel Fernandes. “Não podemos fazer futurologia e dizer se se vai expandir ou não e em que condições”.
Durante a audição, José Manuel Fernandes apresentou alguns números sobre a língua azul, que representa 3% das mortes em ovinos e está à razão de 10 para mil. Entre os bovinos, disse, desdramatizando a intervenção do deputado do Chega Pedro Frazão, que falou em milhares de mortos. “O SIRCA colapsou", disse, referindo-se ao Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais Mortos nas Explorações, tendo mostrado vídeos de produtores a dizer que tiveram de enterrar as próprios animais mortos, por falta de assistência. “Um vídeo manipulado e altamente tendencioso”, segundo o deputado do PSD Gonçalo Valente, que motivou uma reação do parlamentar do partido de extrema-direita, sublinhando que eram verdadeiros e não foram truncados.
O ministro disse que "é falso" falar em colapso e disse que que o SIRCA tem um plano de contingência ativo, mas que tem limitações e não chega a todo o lado. "Mas onde não chega, há outras soluções", disse José Manuel Fernandes, sem especificar.
“Fizemos um ajuste de 2,5 milhões de euros para a recolha de animais, para reforçar o SIRCA”, disse José Manuel Fernandes, desdramatizando outra das questões levantadas pelo Chega. “Isso não impede que os animais sejam enterrados, segundo os editais de DGAVE, nas devidas condições, sendo que já o são em muitas zonas do país, nomeadamente as remotas”, acrescentou o ministro.
Na intervenção, em resposta ao Chega, negou que o Governo tenha reagido tarde ao surto de língua azul. "O primeiro caso foi notificado a 13 de setembro, o edital foi publicado no dia 13 e a 23 de setembro, dez dias depois, foi aprovada a compra das vacinas", disse. “Se fôssemos hipócritas, tínhamos feito um concurso público e estávamos seis meses à espera das vacinas”, disse, sublinhando que a solução foi “encontrar um milhão de euros no Orçamento da Agricultura” para a compra das inoculações. “O dinheiro está disponível nas contas da DGAVE”, acrescentou.
“Houve dificuldades nos picos, isos é um evidência. Houve dificuldades, claro, que ninguém estava à espera deste alastramento”, admitiu José Manuel Fernandes. “Tudo aquilo que for legal e que pudermos fazer para ajudar os agricultores, vamos fazer”, acrescentou o ministro da Agricultura.