As baixas reformas e pensões sociais quase não lhes permitem sobreviver ano após ano. Inválidos, com mais de 65 anos e sem a família por perto, os idosos em Portugal contam, em média, com cerca de 400 euros por mês para cobrir todas as despesas. Apesar do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento do Instituto Nacional de Estatística (INE) ter revelado que, entre 2016 e 2017, a taxa de pobreza nacional diminuiu, a tendência é contrariada no caso das pessoas com mais de 65 anos, que vivem sozinhas.
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Carlos Farinha Rodrigues, doutorado em Economia e investigador em áreas como a distribuição do rendimento, desigualdade e pobreza, política social e avaliação de políticas públicas, aponta "ilhas de pobreza" dentro da população mais velha, com taxas de pobreza muito elevadas: em especial as mulheres, com uma esperança de vida maior e que foram consideradas domésticas. "Se pensarmos em idosos que vivem sozinhos, com mais de 65 anos e ainda por cima mulheres, aí as taxas já são muito mais elevadas. É consequência da nossa história de rendimentos mais baixos", afirma o investigador.
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apoio social diminuiu
Pessoas com carreiras contributivas mais pequenas e com menores salários, juntamente com quem não teve uma vida ativa regular ou que não tenha sido contabilizada na Segurança Social, ajudam a explicar o aumento da pobreza entre os mais velhos. "Também a desigualdade tem vindo a crescer dentro da população idosa", acrescentou.
José António Pinto, assistente social na Junta de Campanhã, no Porto, vive a realidade de perto e considera que "a doença, a insuficiência de recursos económicos e a falta de retaguarda familiar é uma combinação explosiva que conduz os idosos a uma situação de muito sofrimento e privação". De acordo com o técnico, a população mais velha fica esquecida, porque as famílias consideram-na um "estorvo" e a Segurança Social não tem dinheiro.
Carlos Farinha Rodrigues acrescenta que "a questão dos subsídios é só uma parte da história". "A pobreza dos idosos está associada a fatores de exclusão e de precariedade que não são exclusivamente monetários. É necessário que existam políticas públicas que tentem também reduzir a exclusão social", sugere, realçando que o envelhecimento da população torna mais necessária a criação de condições para uma "velhice digna".