Estudo analisou danos físicos nos vários grupos etários. Vítimas demoram, em média, meio ano a voltar ao trabalho.
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Idosos, adolescentes e crianças são as vítimas mais graves dos acidentes de viação, sobretudo por estarem mais envolvidas em atropelamentos, embora os adultos dos 18 aos 64 anos representem a maioria dos que sofrem lesões. As conclusões são de um estudo que revela, também, que predominam as lesões musculoesqueléticas, com implicações na vida futura, que as vítimas apenas puderam voltar ao trabalho, em média, após quase meio ano, e que há problemas de reintegração.
Partindo de uma amostra de 667 pessoas dos três aos 94 anos, incluindo 180 idosos e 56 menores, o estudo detalha o tipo de lesões provocadas pelos acidentes. Foram analisados os danos físicos em grupos etários cujas particularidades "exigem abordagens clínicas e forenses específicas".
O trabalho de pesquisa, enquadrado numa tese de doutoramento de Flávia Cunha-Diniz em Ciências Forenses, da Universidade do Porto, ainda será complementado por estudos específicos sobre crianças e idosos, explicou ao JN, Teresa Magalhães, professora e investigadora da Faculdade de Medicina que participa no estudo. E destacou que, embora os idosos possam sofrer lesões mais graves e ter menor capacidade de recuperação, muitas crianças ficam com sequelas para o futuro. Por isso, o estudo visa também dar orientações ao nível da reabilitação.
Os membros inferiores e superiores são as partes do corpo mais atingidas nos acidentes, seguindo-se a cabeça e o pescoço.
sequelas a longo prazo
Teresa Magalhães, especialista em Medicina Legal que também desenvolveu uma tese em torno das vítimas de acidentes de viação, constatou, no âmbito do seu trabalho numa seguradora, que "aparecem cada vez mais idosos entre as vítimas", por estarem "cada vez mais ativos e até tarde", sobretudo as mulheres. Porém, o estudo agora tornado público não encontrou diferenças entre sexos. A investigadora, que consta entre os autores do artigo científico publicado na "Forensic Sciences Research", apontou como principal conclusão o facto de idosos e crianças (nas quais inclui vítimas até aos 18 anos) apresentarem lesões mais graves, "sobretudo em virtude de serem as vítimas mais frequentes dos atropelamentos".
Os autores remetem para 2019, com mais de 35 mil acidentes nas estradas envolvendo vítimas, das quais 474 foram fatais e mais de 45 mil sofreram ferimentos. É nestes últimos que assenta a pesquisa. No artigo, sublinham ter havido, em 2020, um decréscimo significativo de acidentes devido à pandemia da covid-19 (foram 26 501).
"Os sobreviventes de acidentes de viação experimentam sequelas a curto e longo prazo, muitas vezes com incapacidade e custos económicos consideráveis que têm um grande impacto na sua qualidade de vida e na das suas famílias", referem as conclusões.
ESTUDO
Material de pesquisa
Este estudo sobre as vítimas passou pela análise dos traumas sofridos com base em relatórios médico-legais, que foram utilizados para aferir o dano pessoal.
Reintegração difícil
Os investigadores concluíram que os acidentes nas estradas portuguesas trazem, "muitas vezes, importantes consequências, mesmo a longo prazo, e que os extremos etários podem envolver maior gravidade não só em termos de saúde física, mas também de reintegração".