A Igreja Católica em Portugal espera "uma contestação política organizada", que, no actual contexto de crise, "questione estruturas financeiras, comerciais, culturais, políticas" e permita um novo pacto social.
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A posição foi assumida, na passada quinta-feira, em Lisboa, no final de uma reunião extraordinária do Conselho Consultivo da Pastoral Social, convocada pelo presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, D. Carlos Azevedo.
O Conselho Consultivo da Pastoral Social compreende as instituições seguintes: Cáritas Portuguesa, Comissão Nacional da Pastoral da Saúde, Comissão Nacional Justiça e Paz, Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, Congregação das Irmãs do Bom Pastor, Conselho Nacional da Sociedade de S. Vicente de Paulo, Coordenação Nacional da Pastoral Penitenciária, Coordenação Nacional das Capelanias Hospitalares, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre e Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas.
"A crise é tão grave que não poderemos superá-la uns contra os outros: empresários contra os sindicatos, sindicatos contra patrões, Governo contra a Oposição, Oposição contra o Governo. A vontade de reagir tem de ser concorde, superando divisões e concertando estratégias, com propostas alternativas credíveis", indicou D. Carlos Azevedo. Admitiu que, "em caso de extrema necessidade, todos os bens são comuns", alertando para a hipótese de o agravamento da crise gerar violência social: "Perante a perda do emprego, a ausência de ter que comer, pode haver situações de violência, de revolta".
Para o bispo auxiliar de Lisboa, os actuais modelos de "vida e de consumo, de produção e de distribuição" não são sustentáveis. Por isso, declara que a Igreja não "pode mais evitar a consideração política dos problemas humanos e das suas soluções". Defendeu também que é importante que todos os cidadãos, mesmo os mais desfavorecidos, "desenvolvam iniciativas de auto-emprego, organizem protestos e exijam da democracia soluções justas". Isso pode passar pela "necessidade de ultrapassar o capitalismo neoliberal e encontrar estruturas concretas que sirvam os valores". Espera uma "aposta obsessiva na justiça social", bem como um investimento "na produção de bens verdadeiramente úteis". Desejou que os católicos sejam mais "críticos perante a qualidade da democracia e das instituições sociais".