Bento XVI, a caminho do Reino Unido, visita que termina hoje, reconheceu que a Igreja Católica, no seu conjunto, incluindo bispos e a própria Santa Sé, não foi suficientemente "vigilante, veloz e decisiva", quando chegou a hora de combater os casos de abuso sexual a menores, por parte de sacerdotes.
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O Papa referiu que esses escândalos lhe causaram "profunda tristeza", agravada pelo facto de não terem sido tomadas, com "prontidão e eficácia", as medidas necessárias.
Nas vésperas da viagem de Bento XVI ao Reino Unido, veio a público, na Bélgica, um relatório dramático sobre abusos de padres pederastas. Os bispos belgas revelaram que "estão determinados a tirar as lições que se impõem depois dos acontecimentos horríveis destes últimos meses" com "menores por parte de padres". Concretizam que estão dispostos a colaborar com as vítimas e especialistas com vista à abertura de um "centro para o reconhecimento, cura, readaptação e reconciliação". Até à entrada em funcionamento do centro, que deverá ocorrer até ao fim deste ano, será aberta uma estrutura informativa para onde os interessados podem pedir esclarecimentos através de telefone ou correio electrónico.
O anúncio foi apresentado em conferência de Imprensa presidida por D. Joseph Léonard, arcebispo de Malinas-Bruxelas. "Uma atenção especial para as vítimas é a primeira coisa que temos de estabelecer", afirmou o prelado.
A decisão dos bispos belgas veio depois da divulgação do relatório final da Comissão criada pela Igreja Católica na Bélgica para receber denúncias de vítimas de abusos de clérigos. A Comissão afirma que "as vítimas esperam e merecem uma Igreja valente, que não tenha medo de enfrentar a sua vulnerabilidade e que coopere na busca de respostas justas". Aconselha "a Igreja a ter uma grande consideração com as vítimas: a Comissão é favorável à responsabilização dos autores de abusos, fazendo-os contribuir, entre outras coisas, com um fundo que servirá para oferecer terapia e outros tratamentos para as vítimas que precisarem".
O relatório regista 475 abusos sexuais e o suicídio de 13 vítimas, entre os anos 50 a 80 do século passado. "Estas histórias e o sofrimento que contêm fazem-nos tremer", afirmou o arcebispo de Malinas-Bruxelas. A tragédia da Bélgica foi mais um caso que causou "grande dor" ao Papa, como confirmou o porta-voz do Vaticano, padre Lombardi.