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Reunidos em Fátima, de segunda a quinta-feira passadas, os bispos portugueses tiveram uma agenda carregada de temas que, para lá do trabalho prévio, exigiam ponderação com mais tempo e mais profundidade.
Tudo começou, logo no primeiro dia, com a intervenção do presidente da Conferência Episcopal, D. Jorge Ortiga. Lembrou-se, e bem, de falar da crise por que passa o país. Deu o tom que se reflectiria no comunicado final. Apelou para "a urgência de verdade nos centros de decisão da gestão pública, para a necessidade de vencer a ânsia obsessiva do lucro e as querelas político partidárias, buscando consensos sérios que dêem resposta ao clamor angustiado dos desempregados e mais pobres."
Conscientes da grave situação que o nosso país atravessa, inevitavelmente prolongada, os bispos "convidam todos a enfrentá-la com espírito patriótico de coesão responsável entre forças políticas, agentes económicos, organismos sociais, movimentos culturais, comunicação social e cada cidadão como participante activo. O bem comum da nação assume prioridade nos critérios da construção do nosso futuro. Lucros indevidos, meros proveitos eleitorais e resultados oportunistas não servem a recuperação nacional."
Os bispos entendem que "as medidas de austeridade, para merecerem acolhimento benévolo dos cidadãos, têm de ser acompanhadas de forte intervenção na correcção de desequilíbrios inaceitáveis e de provocantes atentados à justiça social. É hora para pôr cobro à atribuição de remunerações, pensões e recompensas exorbitantes, ao lado de pessoas a viver sem condições mínimas de dignidade."
Os bispos fazem um oportuno apelo à "conversão": "Todos devem sentir-se responsáveis pelas causas motivadoras da actual situação, uma vez embarcados no consumismo do supérfluo e seduzidos pelos bens materiais como centro de uma vida feliz. É hora para repensar as atitudes éticas e cívicas com lucidez vigorosa, com coragem para congregar as energias necessárias no esforço de reformas profundas no estilo de vida, e alicerçada com esperança no humanismo aberto à transcendência e para muitos alimentada no Pai comum que a todos irmana."
A Igreja não se fica pelo discurso, mas promete, em cada diocese, ajudas aos mais desfavorecidos. Nesse sentido, aprovou o regulamento do Fundo Social Solidário, de "carácter emergente", destinado a "todos os mais débeis e carenciados, sejam quais forem os seus credos ou origens".
A hora, por ser de crise grave, é de acção pronta e eficaz.