Estavam os peritos reunidos no Infarmed a proporem mais passos no desconfinamento, quando milhares de adeptos ingleses enchiam as ruas do Porto, incumprindo as regras sanitárias.
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Enquanto os especialistas insistiam no distanciamento e uso de máscara, a Ribeira despia-se de proteções num aglomerado humano. As críticas engrossam e há quem já peça demissões no Governo.
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Mais do que o perigo de alavancagem da incidência no concelho, como em parte aconteceu em Lisboa com os festejos do Sporting, corre-se o risco de perda de adesão à mensagem, por incongruência. Assim o entende o investigador do Instituto de Saúde Pública do Porto: "Há a necessidade urgente de refundar a comunicação e a congruência das medidas", diz ao JN Bernardo Gomes.
Para o médico de Saúde Pública, no tempo que já levamos de pandemia, "uma das principais falhas é a forma como se tem comunicado". E, depois destes últimos dias, o Governo, entrou, de novo, em comunicação de crise. "Em maio, permitiu-se a exceção do futebol e as circunstâncias da Champions, mas pelo meio tivemos a Taça de Portugal [sem público], é uma incongruência e uma oportunidade perdida".
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Se o Executivo vai a tempo das festas dos Santos Populares, o investigador não sabe. O que sabe é que urge, "nesta fase de transição, corrigir o que não está correto, porque a autoridade de recomendação e imposição de restrições ficou ferida perante o que aconteceu com os ingleses". A começar pelo uso de máscara no acesso às praias e sua fiscalização.
"Não faz sentido e já deu asneira no ano passado. Devemos libertar mais as atividades ao livre e a sua fiscalização e libertar as autoridades para o que é importante". Porque o combate, diz, faz-se, acima de tudo, "com a adesão voluntária das pessoas e não com medidas restritivas". Mas, para isso, "é preciso dar o exemplo".
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A Administração Regional de Saúde (ARS) Norte fez este domingo um apelo a quem tenha estado nos festejos da Champions: "Procurar reduzir os contactos nos próximos 14 dias" e "manter-se atento a sintomas de covid-19". Garantindo a ARS Norte que manterá debaixo de olho a "situação epidemiológica" da região.
Ataques políticos
Se o presidente da República havia já criticado o ocorrido, pedindo coerência nas medidas e na comunicação aos portugueses, Rui Rio veio este domingo falar numa "vergonha" que deveria levar o "Governo e a Câmara do Porto a pedir desculpas aos portugueses". Para o líder do PSD, é "muita conversa politiqueira... e muito pouca eficácia".
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O edil do Porto não tardou na resposta: "Se o doutor Rui Rio tem algum problema com a cidade do Porto, têm de lhe perguntar a ele qual é a razão". Rui Moreira estranha ver, agora, o líder do PSD "preocupado com um evento internacional que foi organizado pelo Governo com a Federação Portuguesa de Futebol e com a liga de clubes".
Para o presidente do F. C. Porto, "é um atestado de mediocridade ao povo português", aconselhando o primeiro-ministro a demitir Graça Freitas. "Se não é capaz, demita-se o senhor", disse Pinto da Costa ao "Porto Canal". Já o líder do CDS-PP entende ser altura de Eduardo Cabrita deixar o Governo, "para que Portugal consiga ter uma cultura de respeito".