Marcelo vai receber fundadores em breve. Organismo quer impedir que crimes da Igreja caiam no esquecimento.
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Para "efetivamente apoiar as vítimas", impedir que os abusos sexuais cometidos por membros da Igreja "caiam no esquecimento" e para tratar da "questão das indemnizações" está a nascer a primeira associação portuguesa de vítimas de abusos.
Fundada por três adultos que sofreram quando eram crianças e adolescentes, a Associação de Vítimas e Sobreviventes dos Abusos Sexuais da Igreja (o nome ainda está a ser aprovado) reúne pessoas do Porto, Lisboa e Coimbra. "Toda a gente fala em nosso nome, todos falam em nome das vítimas, mas nós temos voz e queremos ser ouvidas", diz ao JN Cristina Amaral, fundadora da associação.
"Queremos fazer chegar ao espaço público a voz e as reivindicações de quem sofreu abusos de padres e de outros membros da Igreja Católica", refere Cristina Amaral, que vive no Porto mas que, em criança, esteve internada num colégio católico em Coimbra. Para os criadores da associação, as indemnizações não são o principal motivo da criação do organismo, mas fazem parte da lista de preocupações.
"Danos irreparáveis"
"É verdade que a vida não tem preço, mas os medicamentos e os tratamentos feitos durante dezenas de anos têm", afirma Cristina Amaral. E continua: "Temos direito a ser indemnizados pela vida que nos roubaram e pelos danos irreparáveis que sofremos".
As vítimas entendem que cabe à Igreja, "enquanto instituição", garantir o pagamento de indemnizações a todas as pessoas que o reivindicarem. "Agora há quem fale de que deve ser cada padre que cometeu o crime a pagar. Mas, o padre pertence a uma estrutura que é a Igreja, que sempre o protegeu e foi conivente", esclarece.
Os fundadores já pediram um encontro com o presidente da República para que Marcelo Rebelo de Sousa ouça, "de viva voz, o que pensam, sentem e querem" as vítimas. Do gabinete de Marcelo Rebelo de Sousa ficou a promessa de que a reunião será marcada "em breve". Entre os objetivos da associação está também a concretização de um trabalho conjunto com as vítimas de abusos por membros da Igreja em Espanha.
O relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal validou 512 testemunhos relativos a casos ocorridos entre 1950 e 2022. O coordenador Pedro Strecht afirmou que os testemunhos apontam a uma rede de vítimas "muito mais extensa", calculada num "número mínimo de 4815 vítimas".