A ministra da Saúde anunciou, esta terça-feira, que o INEM passará a estar sob a sua alçada. Em visita às instalações do Instituto, Ana Paula Martins contornou a questão sobre se a decisão é o reconhecimento de que a sua secretária de Estado ignorou os alertas dos sindicatos sobre as greves recentes.
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"O INEM passou a estar debaixo da minha dependência direta desde há dois dias porque é uma matéria de uma prioridade enorme, como se está a ver", anunciou a governante, durante uma visita à sede do INEM, em Lisboa.
Ana Paula Martins explicou que, embora o instituto sempre tenha sido uma prioridade para o Governo, era necessário devolver a "confiança" ao país devido a "todo o alarme social" que tem existido nos últimos dias - uma referência às dez mortes alegadamente ocorridas na sequência de atrasos do INEM.
Questionada sobre se o facto de chamar a si a dependência direta do INEM é o reconhecimento de que a secretária de Estado da Gestão da Saúde, Cristina Vaz Tomé, ignorou os alertas dos sindicatos sobre os impactos da greve da última semana, a ministra limitou-se a dizer que a sua decisão "é apenas o reconhecimento" de que o assunto é urgente e prioritário. "O meu tempo no meu dia-a-dia tem de ser dedicado em mais de 70% a resolver os problemas do INEM", referiu.
Ana Paula Martins reiterou ainda que o INEM tem necessidade de pelo menos 400 técnicos nos próximos meses e que as duas greves que decorreram em simultâneo a 4 de novembro geraram "uma grande incapacidade de resposta e ansiedade". "Assim que me apercebi desta situação, tomei imediatamente uma solução em mãos", declarou.
Presidente do INEM assume que foi impossível cumprir serviços mínimos durante a greve
A ministra não se quis alongar sobre as dez mortes recentes, frisando apenas que estão a decorrer inquéritos do Ministério Público e da Inspeção-Geral de Atividades em Saúde (IGAS). Anunciou ainda que os médicos do INEM vão ver atualizado o seu valor-hora e que será feita uma extensão da dedicação plena aos clínicos do instituto.
O presidente do INEM, Sérgio Janeiro, assumiu que foi impossível cumprir os serviços mínimos durante a greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar, ao não conseguir obter uma escala acima dos 70% de trabalhadores.
"Apesar de termos emitido uma circular e contactado diversos trabalhadores, com muitos esforços, não conseguimos que a escala tivesse sido cumprida acima dos 70%", afirmou aos jornalistas, depois de se ter despedido da ministra da Saúde. Questionado sobre se os trabalhadores se recusaram a cumprir os serviços mínimos, respondeu que a situação será "avaliada e investigada".
Sala de crise do INEM foi reforçada porque situação estava "a escalar"
A ministra chegou à sede do INEM pelas 15.35 horas, menos de uma hora depois do fim da sua longa audição no Parlamento, no âmbito do Orçamento do Estado, na qual assumiu "total responsabilidade" pelas falhas da última semana. Recebida por Sérgio Janeiro - e por uma comitiva de jornalistas -, pediu-lhe desculpa por ter chegado "em cima da hora".
"É um privilégio recebê-la", salientou o presidente do INEM, já numa sala de reuniões onde também estavam vários trabalhadores do instituto. "Temos muito trabalho pela frente, mas também temos uma equipa muito motivada para o efeito", acrescentou.
Ambos entraram, de seguida, numa sala de crise, uma pequena divisão onde são monitorizados os casos de emergência. Sérgio Janeiro informou que foram recentemente ali criados mais postos de atendimento porque a situação "estava a escalar". A ministra foi ouvindo atentamente.
Após uma breve reunião privada, a comitiva seguiu para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), no mesmo edifício. Trata-se de um 'call center' no qual profissionais do INEM atendem as chamadas feitas para o 112.
A visita, que decorreu enquanto os médicos e enfermeiros atendiam chamadas, serviu para a ministra procurar mostrar o estado em que os governos do PS deixaram o INEM - ela que, horas antes, no Parlamento, acusara os socialistas de terem "abandonado" o instituto. Chamando a atenção para as "cadeiras vazias" existentes na sala do CODU, Ana Paula Martins frisou que a sua missão é garantir que a situação atual "não se volta a passar".
A visita de Ana Paula Martins ao INEM ocorreu numa altura em que a Oposição questiona a sua continuidade no Governo, em virtude das mortes da última semana. Na audição no Parlamento, ocorrida da parte da manhã, o PS exigiu a sua demissão.