Perceção incorreta da gravidade originou o encaminhamento de 95 mil chamadas no ano passado.
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O INEM - Instituto Nacional de Emergência Médica atendeu 52 541 "falsas emergências" nos centros de orientação de doentes urgentes (CODU) nos primeiros sete meses de 2021. Na prática, os técnicos do INEM receberam em média, por dia, 247 chamadas que não constituíam uma situação de emergência médica, sendo depois reencaminhadas para a linha SNS24. No primeiro ano da pandemia, em 2020, a expressão destes telefonemas foi maior: 95 601, cerca de 7% do total, contra 71 157 (5%) em 2019.
"No último ano, tivemos um valor maior [falsas emergências], porque houve uma alteração dos algoritmos relacionados com a covid-19, sobretudo na fase inicial de contingência", explica António Táboas, responsável pelos CODU do INEM.
O médico esclarece que, quando surgiram os primeiros casos de SARS-CoV-2 em Portugal, muitos utentes com sintomas como febre ou dores no corpo, sem doença grave, ligavam para o 112. Alguns não sabiam que deviam contactar a linha SNS24 e permanecer em casa, isolados, ao invés de solicitar a ajuda de um serviço de emergência.
Desde o final do ano passado, os números estão a normalizar. Porém, até 31 de julho, as ditas "falsas emergências" representavam 6,9% do total de chamadas recebidas nos CODU, desde o início do ano. Acima dos cerca de 5% registados em 2018 e 2019.
Para António Táboas, é difícil estabelecer comparações nos anos da pandemia, tendo em conta as circunstâncias atuais: a circulação do vírus e os períodos de confinamento e a posterior abertura do país. "Já estamos a voltar à atividade pré-pandemia, mas ainda não é uma situação completamente normal", frisa.
NINGUÉM fica SEM RESPOSTA
O cenário ideal seria que as chamadas para situações não urgentes fossem cada vez menos, uma vez que "ocupam linhas de emergência e não carecem do envio de ambulância", diz o responsável dos CODU. No entanto, o mais importante é que ninguém fique sem resposta e, por essa razão, há a transferência de chamadas para o serviço telefónico do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que funciona todos os dias, durante 24 horas.
Apesar do apelo à responsabilidade, há utentes que "não sabem a quem pedir ajuda" e consideram que a situação é grave o suficiente para ligar para o número de emergência. António Táboas refere que existem "casos pontuais" de pessoas a contactar para ter "uma ambulância para ir a uma consulta programada no hospital".
Em agosto, o número de chamadas totais aos CODU rondou as 4100 por dia, sendo que, após a triagem dos técnicos, pouco mais de 200 não são consideradas emergências médicas. De acordo com o responsável destes centros, os valores estão a aproximar-se da realidade de anos anteriores, entre os 3800 e os 3900 atendimentos diários. Nos períodos de maior restrição à circulação, o ritmo abrandou, com dias a registar menos de três mil telefonemas.
Saiba mais
7500 meios acionados sem necessidade
O 112, número único de emergência europeu, atende em média mais de 20 mil chamadas diárias em Portugal, de acordo com a PSP. Apenas 35% são situações de emergência (assistência médica imediata, crimes a decorrer ou incidentes graves, como incêndios florestais). A maioria das chamadas é de "contactos inadvertidos, brincadeiras, testes à capacidade de resposta ou simples desconhecimento". O INEM não faz registo de "chamadas falsas", com intuito malicioso, mas estima que os CODU recebam 20 mil por ano, o que origina o acionamento de perto de 7500 meios.
Números
759
mil chamadas foram atendidas nos centros de orientação de doentes urgentes (CODU) até 31 de julho. Destas, mais de 52 mil foram transferidas para a linha SNS24.
7%
das chamadas foram transferidas, em 2020, dos CODU para o SNS24, por não serem emergências médicas. O valor está acima dos anos de 2018 e 2019. As situações relacionadas com a covid-19 estão na origem do aumento.