Rastreios de despiste a pessoas internada com pneumonia potencialmente provocada pela SARS-CoV-2 já permitiram detetar novos casos de VIH.
Corpo do artigo
A maioria dos doentes graves de covid-19 que são internados estão também a ser testados a outras infeções, incluindo hepatites virais e VIH. Isso já permitiu, segundo Isabel Aldir, diretora do Programa Nacional para a Infeção VIH/sida da Direção-Geral da Saúde (DGS), diagnosticar novas infeções por VIH. Sem adiantar números, Aldir garante que a pandemia se tem revelado uma oportunidade.
"A pandemia certamente veio trazer desafios, mas também algumas oportunidades", ressalva Isabel Aldir. Uma delas é que os doentes graves de covid-19 estão a ser testados a outras infeções. "Já encontrámos infeções VIH que não eram conhecidas, que as pessoas não sabiam. A principal expressão da covid é uma pneumonia viral, que se pode assemelhar a uma pneumonia desenvolvida por doentes VIH. Seria quase obrigatório testar também ao VIH", refere.
Cláudia Carvalho, infecciologista, subscreve que "as manifestações clínicas, desde a tosse seca à falta de ar, e radiológicas destas pneumonias não são só específicas da SARS-CoV-2".
"É uma boa prática"
"É boa prática, neste momento, rastrear hepatites víricas e VIH em doentes internados com covid. A grande probabilidade é que seja uma pneumonia por covid. Mas num mundo antes da pandemia, um doente com este quadro obrigava-nos a pensar noutro tipo de agentes". A especialista exemplifica com uma pneumocistose, que "acontece essencialmente em doentes imunodeprimidos e habitualmente por infeção VIH avançada". Por outro lado, explica, atualmente, estão a ser usados corticoides para tratar pneumonias provocadas pelo novo coronavírus.
"Como são anti-inflamatórios potentes pode agravar a condição de doentes que tenham outra doença, nomeadamente uma infeção que deprima o sistema imunitário", avisa. Daí a importância do rastreio ao VIH, que se tornou numa oportunidade para diagnosticar doentes que desconheciam serem portadores do vírus. Para Cristina Sousa, presidente da associação Abraço, "uma oportunidade para testar mais é sempre positivo". Desde que os rastreios da Abraço foram retomados, em maio, garante, "não há menos procura ao que era antes da covid".
A pandemia permitiu ainda repensar o "seguimento dos doentes", segundo Isabel Aldir. "Alguns vinham com alguma obrigatoriedade aos serviços de saúde. E não é preciso deslocarem-se tantas vezes. Podemos fazer um seguimento com igual qualidade em consultas presenciais e não presenciais".
Mais de 3300 autotestes vendidos num ano
Desde final de setembro de 2019, quando passou a ser possível comprar um teste ao VIH na farmácia e fazê-lo em casa, já se venderam 3346 unidades, uma média de 300 dispositivos por mês. O preço ronda os 24,60 euros. Num ano, houve, segundo Isabel Aldir, resultados positivos na sequência dos autotestes. "As vendas denunciam que esta forma autónoma de fazer o teste era necessária para quem se sente mais confortável". Ainda assim, nesta fase, a Abraço aconselha a que se recorra às ONG para o rastreio, para que o encaminhamento para o hospital ou centro de saúde seja mais célere.