A Inspeção-geral das Atividades em Saúde (IGAS) encontrou indícios de crime no caso da mulher grávida que faleceu depois de ter sido transportada do Hospital Santa Maria para o Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, em agosto do ano passado. O caso acabou por ser o detonador para que a ex-ministra da Saúde, Marta Temido, tenha pedido a demissão e saído do Governo.
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A notícia foi avançada esta quinta-feira à noite pela TVI e confirmada pelo JN junto do Ministério da Saúde e do Hospital de Santa Maria. O Ministério recebeu o relatório da IGAS na passada terça-feira.
O Hospital de Santa Maria confirmou ao JN que "recebeu o relatório da IGAS sobre a assistência prestada a uma mulher grávida nesta unidade hospitalar e a sua transferência para o Hospital de São Francisco Xavier". A unidade hospitalar, onde a grávida de 34 anos iniciou o trabalho de parto, diz ainda que "respeitará os trâmites judiciais e não comentará nesta fase as suas conclusões, que, como expresso no documento, foram alvo de devido contraditório nos prazos previstos no processo".
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A mulher, de nacionalidade indiana, estava a passar férias em Portugal com o marido e não se conhecia o seu historial clínico. Na altura, a diretora do serviço de Obstetrícia, Luísa Pinto, admitiu em conferência de imprensa que "pode ter havido alguma informação importante que nos tenha escapado".
A mulher, grávida de 31 semanas, deslocou-se ao Santa Maria por sensação de falta de ar, taquicardia e cefaleia, tendo sido internada no bloco de partos. A equipa médica decidiu transferi-la para o Hospital São Francisco Xavier, por entender ser o mais benéfico para o bebé nascer no local onde poderia ser assistido, o que não seria possível no Santa Maria por falta de vagas de neonatologia. Quando foi transferida, a grávida "estava estabilizada" e "nada fazia prever" que entrasse em paragem cardíaca, assegurou o hospital na altura.
A grávida, que acabou por falecer alguns dias depois após sofrer a paragem cardiorrespiratória, foi atendida por uma "equipa obstétrica completa", tendo sido transferida por ausência de vagas de neonatologia no Hospital de Santa Maria, uma situação "recorrente", esclareceu na altura a unidade hospitalar.
Mãe ficou em coma e morreu alguns dias depois
A grávida teve uma complicação durante o transporte na ambulância, o bebé acabaria por nascer de cesariana já em São Francisco Xavier e a mãe foi internada em coma numa Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), acabando por falecer alguns dias depois.
No mesmo dia, foi ainda transferida uma outra grávida para o Hospital São Francisco Xavier pelos mesmos motivos.
Segundo a TVI, que avançou a notícia, a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde aponta três erros fatais à equipa médica, que na altura o hospital garantiu que estava completa. Primeiro: o diagnóstico foi bem feito, mas o hospital terá falhado ao não ter provocado de imediato o parto; o segundo erro foi ter optado por enviar a grávida de ambulância para um outro hospital; e o terceiro não ter decidido regressar para o Hospital Santa Maria, assim que se percebeu a gravidade do quadro clínico. "Atenta a factualidade ocorrida logo após 30 segundos do início do transporte e a gravidade do quadro clínico, deveria a equipa ter regressado ao hospital de origem, o que não fez", refere o relatório, citado pela estação televisiva