Investigador António Casimiro Ferreira quer justiça social na fixação dos vencimentos de topo e alerta para populismos.
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António Casimiro Ferreira, professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, defende que as questões salariais não podem continuar fora da Agenda do Trabalho Digno e pede uma discussão sobre o “salário máximo”. O objetivo é evitar vencimentos desproporcionais nos lugares de topo face ao salário menor de uma empresa, explica o sociólogo ao JN. Preocupado com a ameaça populista nas questões do trabalho, critica ainda o discurso de austeridade laboral feito pelos bancos centrais.
O investigador do Centro de Estudos Sociais é um dos oradores do colóquio “O Trabalho Digno: Contexto e Leituras da Agenda”, aberto esta terça-feira pela ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, em Lisboa.
Instado sobre a Agenda do Trabalho Digno e a nova legislação, António Casimiro Ferreira refere “um conjunto de conteúdos louváveis”, desde logo contra a precariedade. Como exemplos positivos, refere medidas sobre trabalho temporário, conciliação da vida profissional e familiar, e teletrabalho.
Porém, indica duas questões estruturais que continuam sem resposta. Defende a clarificação do princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador. Em matéria de resolução de conflitos laborais, quer “uma articulação preventiva”, antes da decisão arbitral, com mais competências e autonomia para os serviços de conciliação e mediação do Ministério do Trabalho.
Quanto vale o trabalho?
Questionado sobre se as questões salariais deveriam integrar a agenda, respondeu que sim, em nome da justiça social. Diz ser preciso “discutir seriamente quanto vale o trabalho de cada um” e “encontrar equilíbrios”, propondo que esse debate seja lançado no Conselho Económico e Social.
Em particular, pede “uma discussão sobre o salário máximo”. A seu ver, o salário de “um administrador ou diretor” deve respeitar regras de proporcionalidade face ao vencimento mais baixo da empresa, dando como exemplos negativos a TAP e a Banca.
O sociólogo avisa que as questões do trabalho são terreno fértil para populismos e extremismos. Por isso, critica os governadores dos bancos centrais, como a presidente do BCE, Christine Lagarde, por retomarem “o discurso da austeridade laboral” ao atribuir a inflação aos aumentos salariais, recordando que isso já contribuiu para o crescimento da extrema-direita.