Investigador do Minho premiado por criar dispositivo de deteção precoce do cancro
Um investigador da Universidade do Minho, David Caballero, foi distinguido pelo seu trabalho na deteção precoce do cancro. O prémio foi entregue esta sexta-feira, no 5.º Encontro Nacional de Jovens Investigadores em Oncologia (ENJIO), no Porto. Vai receber 7500 euros para desenvolver um novo projeto na área.
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O ENJIO, promovido pelo Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC-NRN), reuniu 100 trabalhos de jovens cientistas de todo o país no âmbito do Dia Mundial da Investigação em Oncologia, com a intenção de apoiar a investigação na área. Foram atribuídos três prémios: melhor comunicação oral, melhor “e-poster” e “Liga Inovação”.
“Com ênfase na oncologia, queremos ‘acarinhar’ de forma ativa os jovens investigadores. Um dos objetivos da Liga é apoiar a investigação, outro é retribuir à comunidade e mostrar que existem organizações que acreditam neles [jovens], que são essenciais para o futuro do SNS, onde a sua investigação é aplicada”, referiu ao JN Rui Medeiros, do Núcleo Regional do Norte da LPCC e presidente da Associação das Ligas Europeias do Cancro (ECL).
Dos trabalhos a concurso, David Caballero distinguiu-se e ser-lhe-á atribuído um valor de 7500 euros para desenvolver um projeto em 2024, patrocinado pela farmacêutica BioPortugal. O jovem é um investigador do I3B’s do Instituto de Investigação em Biomateriais, Biodegradáveis e Biométricos na Universidade do Minho.
Investir em educação preventiva
“A prevenção é uma das áreas mais importantes e que merece mais investimento. O cancro nos jovens é das áreas que mais precisamos de investigar”, apontou Rui Medeiros. “O Plano Europeu de Luta contra o Cancro é uma referência importante (...), contém recomendações que, seguidas à letra, permitem evitar a doença na maior parte dos casos. Parte dos esforços passam pela educação preventiva dos jovens”, acrescentou.
O projeto premiado chama-se VECTOR, que é um Dispositivo Microfluído da Biópsia Líquida de Vesículas Extracelulares e Cromatografia, e almeja fornecer uma solução simples, eficaz e de baixo custo para o diagnóstico precoce de casos de reaparecimento do cancro. O dispositivo funciona por meio das vesículas extracelulares, pequenas “cápsulas” que estão no nosso corpo e ajudam na comunicação celular e noutros processos biológicos, e usa tecnologia de biópsia líquida baseada em microfluídica, que permite analisar pequenas amostras de fluídos corporais para detetar doenças, como o cancro.
Incidência do cancro em crescimento
Um estudo recentemente publicado na revista BMJ Oncology verificou que os casos de cancro nas pessoas com menos de 50 anos registaram um aumento de 80% nas últimas três décadas. Estimou também que a incidência da doença nesta faixa etária deve aumentar 21% até 2030.
A LPCC apela ao apoio financeiro e ao incentivo a mais investigação em Oncologia: “rastreio, vacinas, tratamentos inovadores, ensaios clínicos e inteligência artificial são armas fulcrais no combate ao cancro, mas dependem de investimento, investigação e incentivo”.
“As reuniões do ENJIO têm sido exemplares a nível de discussão e investigação e o número de trabalhos apresentados tem vindo a aumentar a cada edição, bem como a qualidade e complexidade. Outro aspeto importante é a reunião de todos estes jovens ao mesmo tempo: criam-se redes de interação, de onde podem advir avanços para o futuro”, assegurou Rui Medeiros ao JN.
“O aperfeiçoamento do Código Europeu Contra o Cancro parte desta investigação que aqui é desenvolvida. Também graças aos avanços em medicina de precisão, alguns tumores passarão a ser raros. Por exemplo, o cancro de colo do útero, à data problemático, deve tornar-se uma doença rara através da vacinação, em combinação com um rastreio organizado”, reforçou Rui Medeiros.