Maria Paula Meneses, investigadora coordenadora do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, terá advertido a editora académica Routledge para retirar o capítulo onde Boaventura de Sousa Santos, diretor emérito do CES, era acusado de assédio sexual por três investigadoras.
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Numa publicação do Facebook, alegadamente pertecente a Maria Paula Meneses e datada deste sábado, a investigadora do CES admite, através do seu advogado, ter interpelado a Routledge para retirar o capítulo onde Boaventura de Sousa Santos, diretor emérito do CES, e o investigador Bruno Sena Martins eram acusados de assédio sexual e moral por três investigadoras. Naquele capítulo, Maria Paula Meneses era identificada como a "watch woman", a sentinela em português, onde era acusada de ignorar as alegadas ações perpetradas pelos dois homens.
"Era um autêntico ataque de caráter contra a minha pessoa - Maria Paula Meneses - contendo imputações genéricas onde os poucos factos que se narram são falsos e caluniosos e põem em causa a minha reputação cientifica e atividade académica seja no meu pais - Moçambique - ou nos contextos internacionais em que tenho trabalhado", lê-se na publicação da investigadora do CES publicada este sábado, no Facebook. Na mesma nota, Maria Paula Meneses afirma que avisou a editora Routledge das "possíveis consequências legais de manterem o capítulo" e apresentou "também uma queixa criminal contra as autoras".
Académicos pedem republicação de capítulo
Ainda na publicação, é possível ler um alegado email de Miye Tom, uma das investigadoras que acusa Boaventura de Sousa Santos e Bruno Sena Martins, enviado a Maria Paula Meneses. Na mensagem de 1 de abril deste ano, Miye Tom ter-se-á dirigido à investigadora coordenadora do CES como "watch woman". "Fui ao seu encontro para lhe pedir ajuda quando ele me perseguiu e me contactou incessantemente. Dirigi-me a você como uma mulher que admiro, como minha mentora e como alguém que me podia compreender e fazer alguma coisa (...) Não fez nada, a não ser apoiar as mentiras dele e as tentativas de me silenciar", lê-se no alegado email de Miye Tom.
Depois de um processo de revisão do livro "Conduta Sexual Inapropriada na Academia", a editora Routledge decidiu retirar, no final de agosto deste ano, o capítulo "As paredes falaram quando ninguém se atrevia". Na publicação do Facebook, Maria Paula Meneses dá a entender que poderá ter sido por causa da sua advertência à editora académica que aquele capítulo foi retirado.
Esta semana, mais de uma centena de académicos de vários países, incluindo as autoras do livro e do capítulo retirado, assinaram um abaixo-assinado em que pedem à editora Routledge para repôr o capítulo e enfrentar "as ameaças judiciais contra a sua publicação". O grupo quer saber também quais as razões que levaram à eliminação do conteúdo e do próprio livro da página da Internet da Routledge.
No CES, uma comissão independente para investigar as denúncias de assédio arrancou no início do mês de agosto. As queixas poderão ser apresentadas até ao final de setembro e a instituição promete ter resultados no final do ano.