Programas com incentivos excederam as melhores expectativas do Governo. Projeto para criação de emprego nas zonas mais remotas do país recebeu 500 milhões.
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Um ano depois de o Governo ter anunciado um apoio de 4827 euros à cabeça para quem quisesse mudar-se para o interior, foram entregues 207 candidaturas à medida Emprego Interior MAIS, uma das criadas para a mobilidade de trabalhadores. Foram beneficiadas 740 pessoas e investidos 1,2 milhões de euros. A medida faz parte de um pacote de 426 milhões de euros, para um impacto previsto de 665 milhões, anunciados para atrair população para o Portugal periférico e despovoado. "O investimento foi ultrapassado", garantiu ao JN, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, notando, porém, "que ainda não é suficiente" para que o impacto começar a notar-se.
Os dados dizem respeito a um período que coincide com a pandemia, o que a leva a afirmar que se pode considerar uma procura "surpreendente". Ana Abrunhosa defende que "é preciso insistir" e investir. "Na pandemia nota-se que muitos estão a mudar-se. Sentiram-se inseguros nas cidades e nos transportes. É uma oportunidade de mudança", observou.
"Muito positiva" é a avaliação às medidas de apoio à contratação (+CO3SO Emprego e contratação de licenciados, mestres e doutorados em empresas) que beneficiaram de 170 milhões de euros, ou o Programa Regressar. A procura foi "avassaladora", vincou a ministra. O Regressar, que visa criar condições para emigrantes e lusodescendentes possam retornar a Portugal, é um caso de sucesso, para Ana Abrunhosa. Foi prorrogado até 2023. "Uma nota muito positiva é que estão numa idade em que têm filhos pequenos e mais de metade tem qualificações superiores", destacou a ministra.
De 90 a 500 milhões
Já o +CO3SO Emprego "foi redesenhado com a pandemia", acrescenta, acabando alargado a todo o país. É uma medida de apoio a empresas que queiram contratar ou para quem crie o próprio negócio. "Abrimos em julho com 90 milhões de euros e estávamos receosos da procura, que ultrapassou os 500 milhões. Foram aprovados 250 milhões de euros para cerca de 4500 postos de trabalho", enumerou. Em média, cada trabalhador pode beneficiar de 1200 euros.
A ministra da Coesão destaca exemplos de quem aproveitou, como uma empresa de Cantanhede que está na fase de testes clínicos para desenvolver uma vacina. Os impactos no território demoram, mas "as mudanças vão notar-se", diz Ana Abrunhosa. Exemplifica com a falta de habitação em Bragança, Castelo Branco e Coimbra. "Há dias, na Lousã, uma empresa imobiliária dizia que nos próximos tempos precisa de mais de cinco mil habitações, porque há procura", afirmou.
Saiba mais
Interior
São considerados do interior 165 municípios, mas em 21 só são consideradas 73 freguesias.
15 mil empregos
Nos programas operacionais regionais do Portugal 2020 foram aprovados 6150 projetos, num valor superior a 1600 milhões, com apoio de 958 milhões de fundos europeus. Criaram 15 mil empregos.
Regressar
O Programa Regressar aprovou 1600 candidaturas, 222 para o interior.
Testemunho
Programa Regressar "foi clique" para fazer as malas
A decisão de regressar já tinha sido tomada há algum tempo, mas não havia data certa. Saber do Programa Regressar não foi determinante, mas foi " um clique" para fazer a mala. "Queríamos voltar, pelas meninas, porque estavam a crescer e começarem a escola em Portugal logo de início, pois se começassem em França já não regressávamos", conta Joana Silva, 31 anos (na foto), enfermeira, natural de Arouca, que esteve emigrada em França 10 anos.
Regressou e beneficiou daquela medida do Estado. "Foi uma ajuda. Só que obedece a requisitos, como ter contrato de trabalho. Alguém que venha numa situação precária, sem trabalho, não consegue. É uma ajuda positiva, mas não se decide só pelo programa. Nós deixámos tudo para trás. Uma vida já organizada, depois de tantas dificuldades quando chegámos a França, uma casa comprada com sacrifício, amigos, trabalho, rotinas, para recomeçar. Procurar trabalho e casa, desta vez com a responsabilidade de três filhas. Dá medo. Há momentos de desespero, quando não se consegue arrendar um apartamento nem arranjar trabalho ou que alguém pegue no teu currículo", descreve Joana.
A família beneficiou do programa porque o marido regressou com contrato de trabalho. Agora é motorista de pesados, mas tem uma licenciatura em Microbiologia. Um mês depois da chegada, Joana conseguiu emprego no Porto e só mais tarde se mudou para Arouca, onde trabalha no setor social.